Check-up mental: mais que necessário

04/08/2021 às 16:57.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:36

Lorena Paixão*

 Hoje, Dia Nacional da Saúde, as discussões quase sempre se concentram nos assuntos que remetem à situação de desvalorização do SUS pelas instâncias de Poder Público em nosso país e à importância da medicina preventiva. Os temas são, de fato, relevantes. Mas quero propor para a data outra reflexão igualmente necessária: o valor da saúde mental em nossa sociedade.

Estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), publicado em agosto de 2020 no jornal “The Lancet”, indicou aumento de 90% nos casos de depressão no Brasil, durante a pandemia. A análise revelou, ainda, que o número de pessoas com crise de ansiedade e estresse agudo praticamente dobrou entre março e abril de 2020, no início da crise sanitária. A Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr) considera, inclusive, os desdobramentos mentais da Covid-19 como a quarta onda da doença. E o cenário é preocupante para o nosso país, que já é líder mundial em casos de ansiedade.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), não é apenas o contágio, o medo da infecção e a iminência da morte pelo coronavírus que têm afetado a saúde mental das pessoas. O estresse causado pelas desigualdades socioeconômicas e o desemprego, além dos efeitos da quarentena, do confinamento, do fechamento de escolas e dos locais de trabalho, geraram consequências enormes, segundo o diretor da agência na Europa, Hans Kluge. Consequências essas cujos impactos poderão ser sentidos a longo prazo.

Diante do exposto acima, não restam dúvidas que o bem-estar mental deve cada vez mais ser tema de conversas e debates francos e lúcidos, afinal, estamos falando de um componente-chave da nossa saúde, que requer ação imediata dos governos neste presente caótico que vivemos.

A própria OMS recomenda que os países fortaleçam os serviços de saúde mental, garantindo a melhora do acesso à atenção por meio de tecnologia digital, aumento dos serviços de apoio psicológico em escolas, universidades e locais de trabalho e também para pessoas que trabalham na linha de frente contra a Covid-19.

O check-up mental deveria, por sinal, ser incluído em nossas rotinas de avaliações periódicas, o que exige, obviamente, investimento em saúde pública com, por exemplo, aumento de profissionais e a oferta de tratamentos, já que os acompanhamentos terapêuticos e psiquiátricos ainda são muito caros, distantes da realidade da maioria da população.

Como bem diz o ditado, “mente sã, corpo são”. Por isso, não deixe de buscar auxílio, mesmo que aparentemente esteja tudo bem contigo. Lembre-se que algumas feridas que carregamos, às vezes, são imperceptíveis. Somos vulneráveis e frágeis, portanto, devemos nos apoiar, sempre que possível, em quem pode nos ajudar a enfrentar os dissabores da vida.

*Psicóloga e supervisora de gestão de pessoas do Cetus Oncologia

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