Cinquenta pessoas

19/06/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:56

Antônio Álvares da Silva*

Cinquenta pessoas – eis o trágico resultado do assassínio coletivo praticado por um neurótico numa boate gay em Orlando, Flórida. O covarde atirador sorria enquanto matava gente indefesa, que foi ao local à procura de lazer, convívio e paz.

O fato suscita reflexões. O terrorismo é “técnica” moderna, criação de nosso tempo para matança coletiva. Chegamos ao cúmulo da maldade humana. O homem sempre guerreou, conforme demonstra Ian Morris em seu livro “Guerra”.

E, paradoxalmente, após as guerras, houve mudanças fundamentais na humanidade, marcando novo tipo de filosofia de vida e grande progresso.

Mas aqui surge a primeira pergunta: se algumas guerras trazem progresso e mudanças políticas, por que não as fizemos na paz, sentados na mesa de conferência, trocando ideias que tragam o bem-estar do mundo, mas sem o sofrimento e destruição que toda guerra traz?

Até hoje não sabemos responder: o homem tem que sofrer para depois viver felicidades. Não é capaz de resolver pacificamente os problemas do mundo. Negocia tendo atrás de si exércitos e foguetes. E confia mais nestes do que na negociação.

O terrorismo vem ganhando a guerra. Ainda não se descobriu um meio eficiente de evitar esta barbaridade

Agora, descobriu-se o terrorismo impessoal. As nações menores, por fanatismo ou questões políticas, inventaram um novo e cruel modo de ataque e destruição. Em vez da guerra total, que não são capazes de conduzir, declaram guerra ao “inimigo”, ou seja, a qualquer cidadão que pertença ao país que consideram alvo político ou religioso.

Arranjam-se novos satãs, monstros destruidores, portadores do mal que “difundem” pelo mundo. Declara-se a culpa unilateral e o direito de matar indefesos.

A questão é complexa e não se sabe como combater este radicalismo e esta insanidade coletiva, que agora se aperfeiçoa com o apoio de fanáticos que vivem nos países ocidentais que querem destruir.

Os recentes ataques na França, EUA, Espanha são praticados ou dirigidos por cidadãos do próprio país, que colaboram na morte de inocentes em nome de uma causa obscura e radical. 

O terrorista pode ser um qualquer da rua. Como se trata de ato que destrói, em primeiro lugar, a vida de quem o pratica, a defesa se torna impossível.

Mas o que é pior é o medo disseminado e a intranquilidade social que daí provêm. Ninguém possui mais paz para frequentar concertos, teatros, cinemas e festejos públicos.

Podem morrer enquanto se procura divertimento e lazer, indispensáveis ao ser humano que vive em coletividade. Quem faz viagem internacional, tem natural receio de uma explosão em alto mar ou de suicídio da própria tripulação que pode revelar um terrorista enrustido.

Em pleno século 21 a humanidade vive um dos mais difíceis problemas de sua história. Os países objeto de ataques são potentes e fortes. Mas não têm um inimigo declarado. O terrorista pode ser qualquer um entre os milhares que viajam de metrô ou vão a teatros. 

O fato é que reações também radicais vão tomando lugar nas nações, prejudicando a aproximação entre os povos. Está provado que o pior inimigo do homem é ele próprio. 

(*) Professor titular da Faculdade de Direito da UFMG

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