Com as mãos sujas de petróleo

22/09/2016 às 20:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:56

Paulo Paiva*

Esta semana a Câmara de Deputados deu mais uma demonstração de seu divórcio da Nação e de seu compromisso com a impunidade ao tentar votar lei anistiando os crimes de caixa 2 cometidos até 2014. A resistência de poucos e atuantes deputados evitou que mais uma nódoa viesse manchar o parlamento brasileiro, na calada da noite. 

Não foi um fato isolado, mas sim uma evidência adicional às tantas outras que foram e estão sendo tramadas para desqualificar e constranger a Justiça e limitar a ação da Operação Lava Jato.

Para não subestimar essas artimanhas é de bom alvitre, para usar uma expressão em desuso, recordar o que aconteceu com a operação Mãos Limpas, na Itália. Um aparente crime comum levou o Poder Judiciário italiano a descobrir, acidentalmente, um amplo cartel de corrupção envolvendo todos os partidos políticos e grandes empresas fornecedoras de serviços ao governo. Um caixa comum recolhia uma percentagem do que era pago, como sobre preço, para a execução de obras e a dividia em partes pré-determinadas aos partidos políticos, como propina. Quanta semelhança. 

Por um bom tempo, na Itália, a população mobilizada acompanhou e deu suporte às ações do Ministério Público e dos juízes. O avanço das investigações e condenações resultou na prisão de importantes agentes públicos e políticos e na desorganização do sistema partidário existente. Novos partidos foram criados e, em 2008, Silvio Berlusconi foi eleito presidente do Conselho de Ministros. Sob sua liderança o parlamento aprovou leis limitando a ação da operação Mãos Limpas. Ao longo do tempo a população italiana foi perdendo o entusiasmo e deixando de apoiar o esforço do Poder Judiciário em revelar e punir a corrupção. Triste fim.

Comparando com a experiência italiana, fica a lição: somente a população alerta e mobilizada, com suporte da imprensa livre e atenta e das redes sociais atuantes, poderá inibir e frear movimentos que visem barrar as investigações e condenações dos corruptos, e garantir o saneamento do sistema político brasileiro. Olho neles!

(*) Professor associado da Fundação Dom Cabral. Foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

 

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