Como o Brasil é visto em Portugal

18/06/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:56

Aristóteles Atheniense*

O “Diário de Notícias”, jornal de reconhecido prestígio em Portugal, editado em Lisboa, trouxe em sua edição do dia 13 deste mês detalhada reportagem sob o título: “Todos os presidentes do Brasil estão sob investigação policial”.

A matéria enfatizou que, quando ocorreu o escândalo do mensalão, envolvendo a cúpula do PT e deputados de sua ampla base aliada, a maioria dos inquiridos respondia que o caso não ia dar em nada: “Já se viu poderosos na cadeia deste país?”. 

Tornou-se consensual dizer em reuniões de cafés, fóruns de internet ou mesas-redondas de TV: “vai terminar tudo em pizza”. A expressão brasileira equivalia a “acabar em águas de bacalhau”.

Menos de quatro anos depois, esta descrença em relação aos processos instaurados não mais perdura. Assim, José Sarney, alma do PMDB, acaba de ver desmoronar o seu poder no Maranhão, em face do pedido de prisão formulado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Primeiro presidente eleito pós-redemocratização, Fernando Collor de Mello, que no ano passado referiu-se a Rodrigo Janot, no plenário do Senado, como “filho da p.”, foi alvo de ação da Polícia Federal na Operação Politéia, desdobramento da “Lava Jato”. Em sua mansão, em Brasília, foram apreendidos uma Ferrari, um Porsche e uma Lamborghini.

A Justiça investiga a acusação de que uma ex-amante de Fernando Henrique Cardoso recebera através de contrato fictício da Brasil S/A Importação e Exportação, empresa que detinha o monopólio de espaços em duty free em aeroportos, uma pensão durante o seu governo (entre 2002 e 2006).

Quanto à Lula, responde por ocultação de patrimônio, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, além de tráfico internacional de influência, já tendo prestado depoimento mediante condução coercitiva na “Lava Jato”. 

Por sua vez, Dilma Rousseff foi citada por duas testemunhas em delação premiada por haver cometido manobras regimentais, além de ter custeado a sua campanha eleitoral de 2014 com dinheiro ilícito do petróleo, em processo que está em curso no Tribunal Superior Eleitoral.

A imagem que o “Diário de Notícias” faz da política brasileira é a mais comprometedora, destacando que, além dos ex-presidentes, 150 deputados e 40% dos senadores têm problemas com a Justiça. 

Diante do que já foi apurado e em relação ao que, ainda, possa ser conhecido, o país está diante de uma “questão estrutural” que “só terá efeitos saudáveis se a opinião pública entender que estes vícios não pertencem a um ou outro lado político e sim a uma estrutura”. Caso contrário, “a possibilidade de cair em contos de oportunidades com discursos messiânicos é gigantesca”. 

Referindo-se ao presidente em exercício, Michel Temer, apesar dos dois ministros que recrutou já terem caído, por obstrução à “Lava Jato”, a metade deles ainda é alvo do Judiciário por diferentes motivos.

Na parte final deste levantamento, foi realçado que José Dirceu, antigo braço direito de Lula, que antes figurava em manchetes pelas falcatruas cometidas, se comparado aos envolvidos na trapaçaria apurada, não passaria de mera notícia de rodapé. 

Constou do subtítulo da reportagem a curiosa chamada: “Collor, FHC, Lula e Dilma têm a polícia à perna. Faltava Sarney. Já não falta. O Planalto não é lugar seguro nem para Temer, o atual inquilino. Observadores aprovam com cautela”. 

Outros órgãos da imprensa portuguesa que se ocuparam do mesmo tema, não emitiram conclusão diversa do “Diário de Notícias”. A denúncia inclui uma foto colhida junto ao avião presidencial, por ocasião da morte de Nelson Mandela, em que aparecem os cinco implicados, que exerceram a suprema magistratura da Nação. 

(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB. Diretor do IAB e do Iamg. Presidente da AMLJ

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