Crises imprevisíveis e semelhantes

19/05/2017 às 18:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:38

Aristoteles Atheniense*

Na política, também, há coincidências. O apuro vivido pelo governo de Donald Trump guarda afinidade com o que atingiu Michel Temer. 
Após seguidas críticas por parte da oposição e dos órgãos de imprensa mais poderosos dos Estados Unidos, Trump foi acusado pelo “The New York Times” de haver afastado o ex-diretor do FBI, James Comey, com o propósito de conter as investigações sobre as relações de seu conselheiro de Segurança Nacional com o governo russo.

No Brasil, o presidente Temer foi acusado pelo jornal “O Globo” de ter autorizado o empresário Joesley Batista, da JBS, a comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, mediante pagamento mensal à sua família. 

Em ambas as hipóteses, o remédio legal sugerido foi o impeachment. Enquanto Temer insiste numa investigação “plena e muito rápida”, Trump considera-se alvo da “maior caça às bruxas”. 

Em Brasília, já foram suspensas as reformas em andamento no Congresso, cuja aprovação Temer reputava decisiva para o êxito de sua gestão. Alguns titulares da base aliada se comprometeram a aguardar o desate da crise institucional, antes de deixarem os ministérios que ocupam.

A empresa JBS responde a sete inquéritos na Operação Lava Jato, inclusive no escândalo da “Carne Fraca”. Nos governos Lula e Dilma, obteve empréstimos que lhe permitiram crescer 17 vezes, passando a operar em mais de 20 países e mantendo só nos Estados Unidos cerca de 56 fábricas. 
Segundo o colunista Reinaldo Azevedo, “todos sabem que os irmãos Joesley e Wesley Batista eram íntimos e grandes beneficiários do regime petista” (“Folha”, 19/5/17). Curiosamente, a dupla Batista encontra-se nos Estados Unidos, para onde se transferiu em companhia de seus familiares antes que a gravação feita por Joesley viesse à tona.

Adotando o mesmo expediente da Odebrecht, emitiram nota pedindo desculpas aos brasileiros pelo “estrago” que fizeram numa fase em que a economia parecia tomar fôlego, com a criação de oportunidades aos esperançosos 14 milhões de desempregados.

Os denunciantes de Temer teriam propiciado ao país uma contribuição que, certamente, poderia render-lhes vantagens ainda maiores no governo vindouro.

A sindicância determinada pelo ministro Fachin deve ter como ponto de partida os negócios da JBS e de seus dirigentes junto ao BNDES. Hão de ser apuradas as vantagens ilícitas que obtiveram nos mandatos anteriores. Vamos aguardar.

(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB, diretor do IAB e do iamg

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