Cuidados paliativos para a humanização

14/11/2018 às 22:06.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:50

André Filipe Junqueira dos Santos*

Ainda pouco conhecido pela maioria da população, o Cuidado Paliativo (CP), conforme definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), “ consiste na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e familiares diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, psicológicos e espirituais”. No meio clínico, essa forma de atendimento ganha força, mas ainda é pouco disponibilizada no Brasil, apesar de representar uma assistência à saúde mais humana.

Existe ainda uma visão errônea de que os Cuidados Paliativos devem ser aplicados somente em pessoas que se encontram nos momentos finais de vida. Uma equipe multidisciplinar de CP de qualidade, formada por psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, médicos, assistentes sociais e outros profissionais, pode cuidar da dor, da falta de ar, das náuseas, da fadiga ou de outros sintomas _ e quanto mais cedo melhor. Além dos sintomas físicos, os Cuidados Paliativos também têm como foco aspectos emocionais, como medo, ansiedade e depressão, comuns em pacientes e familiares em situações graves de saúde. E, por fim, cuidar da espiritualidade do individuo, ou seja, ou o que lhe é sagrado. 

Diversos estudos científicos de grande impacto demonstraram que, quanto mais cedo se iniciam os Cuidados Paliativos, melhor o controle dos sintomas, a qualidade de vida e, em algumas doenças, a sobrevida dos pacientes. Essa abordagem também se reflete nos sistemas de saúde com o melhor gerenciamento dos recursos existentes. Em suma, os Cuidados Paliativos agregam valor ao sistema de saúde, pois aumentam a qualidade da assistência com redução de custos.

Levantamento realizado pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) apontou que dos mais de 5 mil hospitais no Brasil, apenas 10% disponibilizam uma equipe de CP. Existem 177 equipes no país, com mais de 50% dos serviços concentrados na Região Sudeste, enquanto 10% (cerca de 13 equipes) atendem o Norte e Nordeste. Números bem aquém do desejado se compararmos com os apresentados pelo estudo feito nos EUA em 2016 pelo Center for Advanced Palliative Care (CAPC), onde existem mais de 1.800 equipes atuando com Cuidados Paliativos. A cobertura é de mais de 75% dos hospitais com mais de 50 leitos.


Segundo dados da Aliança Mundial de Cuidados Paliativos (Worldwide Palliative Care Alliance - WPCA, 2014), atualmente, mais de 100 milhões de pessoas por ano teriam benefícios eme receber cuidados paliativos (incluindo familiares e cuidadores). Mas menos de 8% que precisam desse tipo de assistência têm acesso garantido. Infelizmente, ainda não existe no Brasil uma política de saúde pública que estruture ou oriente especificamente o desenvolvimento do CP. E entre as operadoras de saúde os Cuidados Paliativos ainda não são contemplados no rol de procedimentos, limitando o crescimento da assistência em serviços de saúde privados. Em relação à formação de profissionais de saúde com esse conhecimento, os cuidados paliativos não obrigatórios nos cursos de graduação.

A fim de discutir a assistência , a ANCP, que atua intensivamente no acesso ao atendimento de Cuidados Paliativos no páis, promoverá de 21 a 24 de novembro próximos , no Expominas, em Belo Horizonte, o VII Congresso Internacional de Cuidados Paliativos. 

O encontro terá como tema “Consolidando Conquistas / Rompendo Barreiras “, que será discutido por influentes especialistas em Cuidados Paliativos dos cenários brasileiro e internacional.


*Geriatra e vice-presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP)

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por