Diversidade e mudanças sociais

31/07/2018 às 21:52.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:41

Ricardo Sales*

Nunca se falou tanto sobre diversidade. Cada vez mais marcas e organizações têm estimulado debates sobre respeito, representatividade e promoção da igualdade a todas as pessoas, independentemente de gênero, raça, condição física ou orientação sexual.

É um movimento interessante e que acontece a despeito do crescimento da intolerância nas ruas e nas redes. O Brasil continua sendo o país do machismo e do racismo acobertado e do assassinato em massa da população LGBT. Mas pela primeira vez grandes empresas se aproximam da discussão.

Falar sobre diversidade não é falar de minorias. É refletir sobre maiorias excluídas. Num país feminino (51%, segundo o IBGE) e majoritariamente negro (54%), por exemplo, nem sempre estes grupos tiveram espaço no dia a dia das organizações e na comunicação que elas produzem.

Segundo o Instituto Ethos, mulheres ocupam só 13,6% dos cargos executivos nas 500 maiores empresas do país. Negros são 4,7%. Quando se cruzam os dados de gênero e raça, o cenário é pior: apenas 0,04% de mulheres negras em posição de destaque nas organizações.

As pessoas com deficiências, apesar de avanços com a Lei de Cotas, seguem à margem. Entre gays e lésbicas brasileiros, 2 em cada 3 não se sentem bem para falar sobre sexualidade no trabalho de acordo com a ONG OutNow.
Historicamente, a comunicação não deu grande importância ao tema. Só recentemente, em movimento liderado por marcas como Skol, o debate sobre inclusão ganhou espaço. Quem cresceu em um mundo em que não havia referência positiva na TV a gays, negros ou pessoas gordas entende bem o que estamos falando.

A comunicação molda gostos, reforça ou contesta estereótipos e é, sem dúvida, parte de um processo para educar para as diferenças. Ao contrário do que se pode pensar, nunca “é só publicidade”.
Agências sem políticas claras de inclusão e respeito às diferenças podem começar a perder espaço nas concorrências.

Diversidade é um dos assuntos da moda, mas não é modismo. É um debate que chegou tarde ao Brasil, mas veio para ficar.


*Pesquisador na ECA/USP. Em 2017, foi eleito pela Out&Equal brasileiro mais influente do ano no tema diversidade.

 

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