Erro de prioridade

03/04/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:12

Glenio Martins de Lima Mariano*

Algo a que um gestor público não pode se furtar é avaliar, com zelo e prudência, quais são as prioridades para sua gestão. Especialmente em tempos de vacas magras, em que o recurso deve ser aplicado da forma mais assertiva. Retirar do Censo Agropecuário as questões que servem para caracterizar e dimensionar a Agricultura Familiar brasileira é, no mínimo, um erro crasso de avaliação de prioridades, para ficar numa ponderação quase que ingênua. 

Diante do corte de verba, o IBGE se diz obrigado a "simplificar" o levantamento. O estarrecedor é que, das questões que devem desaparecer, a grande maioria são relativas à Agricultura Familiar.

O Censo Agropecuário de 2006 teve um papel fundamental no reconhecimento do "peso" da Agricultura Familiar brasileira, e sobretudo no desenvolvimento de políticas públicas para o setor, já que pela primeira vez se jogou luz nesta área. Segundo o levantamento, o Brasil tinha pouco mais de 4,3 milhões de estabelecimentos da Agricultura Familiar (84,4% do total), responsáveis por 30% da produção global. Ela é ainda o maior gerador de emprego no campo, correspondendo por 74,4% das ocupações.

Com estes dados, muitas políticas foram intensificadas, nas gestões Lula e Dilma. Outras extremamente relevantes foram criadas, como, por exemplo: o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), de 2009, que determina a compra de ao menos 30% dos alimentos da Agricultura Familiar para serem servidos nas escolas públicas; e o PAC 2, de 2010, por meio do qual foram entregues equipamentos às prefeituras de pequenos municípios, com o objetivo de melhorar a infraestrutura para o escoamento da produção. 

Tudo isso leva a uma percepção de grandes avanços no cenário da Agricultura Familiar, de 2006 para cá. E é preciso mensurar isso, não apenas para reconhecer o desenvolvimento, mas, principalmente, para se avaliarem as políticas e projetar as ações futuras. 

Privar destes dados para embasar as decisões é relegar a Agricultura Familiar a um lugar menor. E, ao mesmo tempo, ampliar, e muito, as chances de erro.
  
Num momento em que os recursos são restritos, é preciso pensar em alternativas para aumentar a arrecadação, e, havendo cortes, é inadmissível que sejam feitos em inteligência, que é a base de todo planejamento dos governos. 


(*)Presidente da Emater–MG
 

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