Escritores independentes

16/05/2016 às 23:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:28

*J.Cláuver

Há pouco menos de um mês terminou a Bienal do Livro de Minas, em Belo Horizonte. Eu não expus minhas obras porque não tenho vínculo com editora, sou escritor independente. Não ter esse suporte às vezes dificulta a inserção em eventos literários. O espaço existe em alguns casos, porém a participação não é assim tão simples. Ser dos “independentes” é muito interessante, mas nem todos os momentos são fáceis. Tomando-me por referência, acho que todo escritor independente é um idealista, tem sua experiência, histórias para contar, acha-as bonitas, interessantes e logo imagina que todo mundo também vai gostar, em seguida toma a decisão de vê-las impressas em livro.

É bom que assim o seja, sonhar imaginando as pessoas lendo seus livros no banco da praça, no metrô, acomodado na poltrona de sua casa, no consultório do dentista ou no banco do ônibus. Há os que se desabrocham lendo para um deficiente visual, gente que desliga a televisão para ler as histórias que você escreveu, gente que resiste aos cochilos para saborear o texto, tem o livro que cai no chão, é buscado e de novo cai, até que vencido pelo cansaço o leitor renuncia, deixa-se vencer e dorme – as divagações do escritor. Assim sonha o escritor independente quando se dobra sobre o teclado do computador pelo prazer de escrever. Em geral não se move por dinheiro, mas pelo prazer de espalhar sua felicidade, compartilhar experiência e conhecimentos.

Na minha saudosa escola em Santana do Riacho, a professora do curso primário nos estimulava a ler e assim definiu: um livro é um professor mudo. Neste momento, quando falamos de livros, tenho algo a falar sobre uma anônima e considerável parcela que se debruça a escrevê-los: o escritor independente. Chegada a hora de editar seu trabalho, nos embrenhamos por uma teia de caminhos: de posse dos manuscritos, busca-se um revisor, depois o diagramador; então chega o capista, aquele que consegue sintetizar na capa a ideia do conteúdo.

Isso pronto vem a peregrinação por uma gráfica competente para o trabalho de edição. Hora de discutir na frieza do tecnicismo, o papel da capa e processo de sua feitura, papel da impressão, seu tipo, cor e fonte, prazo de entrega, preço. Enfim, o livro pronto. Para o lançamento convida 400 pessoas; nem todas comparecem. Investe-se um valor alto, ao final arrecada-se um quinto desse tanto e dá-se por feliz entre abraços, vinho, sorrisos e música – mais vale um gosto que quatro vinténs, dizia minha mãe.

No cenário editorial em que vivemos, creio que a discussão das feiras literárias não seja mais como os autores independentes podem participar de eventos, mas, sim como os eventos podem ser construídos de maneira a destacar e fortalecer a autopublicação, principal berço dos novos talentos. A maior dificuldade do escritor se dá na etapa de vendas e, por isso, as feiras literárias se tornam tão importantes.

Essas iniciativas nos colocam em contato com produtores e com o público. Cria-se a oportunidade de formar uma rede, aprender com a experiência de quem está trilhando o mesmo caminho. Então, por que não a destinação de mais espaços nas feiras para esses autores exporem suas obras? Precisamos abrir novos caminhos, merecemos ser reconhecidos e lembrados.

(*)Escritor independente
 

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