Márcio Amaral*
A proposta do Governo de mudar o Ensino Médio gerou polêmica. Considera-se que a transformação foi abrupta e pede-se uma urgência de aplicação que não pode ser facilmente transposta, principalmente, na rede pública.
Há quem questione o fato de o ensino de sociologia e filosofia ser aplicado somente no caso do aluno que seguiria a grade de humanas como preferência. Estamos prestes a viver o fim do pensamento crítico no Ensino Médio?
Durante a ditadura militar, a cultura de resistência encontrou caminhos para manifestar sua opinião através da arte. Tinha-se pouco acesso às informações e restrição sob o que podia ou não ser debatido.
O cenário atual é bem diferente. A geração que está nas salas de aula não tem mais a escola como fonte principal de informação. Cabe ao professor conduzir o aluno para ver o assunto sob outro ângulo.
Mesmo que as disciplinas sociologia e filosofia sejam excluídas do currículo obrigatório comum do Ensino Médio, o pensamento crítico continuará a circular. A importância dessas matérias é inegável, entretanto, elas não estão mais restritas apenas aos livros. A educação digital é uma realidade. É possível debater assuntos ligados a esses temas em chats online, assistir vídeo-aulas, e, até mesmo, participar de movimentos sociais com ativismo na internet.
Atuo no ensino médio das redes pública e da privada. Percebo que o índice de alunos com aptidão para a área de humanas é maior que os interessados nos demais campos do conhecimento. Sendo assim, temos mais um motivo para não temer a morte da reflexão crítica.
A reforma dessa etapa da educação básica surpreendeu por ter sido anunciada antes de um debate maior com especialistas, contudo, apresenta boas propostas. Se por um lado, a aplicação do novo modelo pode parecer utópica na rede pública pela falta de infraestrutura e investimento, por outro, o anúncio já teve um mérito importante: fez as pessoas pensarem sobre o problema e debatê-lo.
Mais uma vez, a sociologia e a filosofia saem da teoria para serem aplicadas na prática.
(*) Professor de sociologia e filosofia do Colégio ICJ