Financiando o alto crescimento do Brasil

14/11/2018 às 22:25.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:50

Pedro Lipkin*

Quando a empresa está iniciando as suas atividades ou crescendo de forma acelerada, o empreendedor nem sempre tem o dinheiro necessário para investir no negócio. Não é à toa que a falta de recursos financeiros é apontada como um dos três principais desafios dos empreendedores brasileiros. Paradoxalmente, há dinheiro para investir. O que ocorre é que nem sempre o acesso a esses recursos é simples ou alguns segmentos não são contemplados, como as médias empresas. Nesse caso, elas podem não estar com as contas e/ou a gestão em ordem nem possuir as garantias pedidas pelos bancos.
 
Negócios inovadores sofrem ainda mais, porque o empreendedor geralmente não consegue comunicar ao banco seu plano de negócios e a estratégia de crescimento, fator que dificulta o entendimento e a avaliação da instituição financeira sobre o risco envolvido; por isso são pedidos muitos documentos e demonstrativos financeiros. Daí a dificuldade relatada por tantos empreendedores: o problema não é a falta de dinheiro, mas o que é preciso fazer para acessá-lo, como apresentar muitas garantias, pagar juros altos e preencher muitos documentos e requerimentos. E isso tudo quando a empresa está buscando se consolidar no mercado e precisa de mais capital para conseguir crescer, contratar funcionários, inovar e melhorar a gestão.

De modo geral, o mercado de crédito no Brasil tem três restrições mais relevantes: (i) a soma de custos administrativos e exigências por parte do emprestador _ todo o custo de pessoas, tecnologia e regulação envolvidos na análise e concessão de empréstimos; (ii) o custo de monitoramento do empréstimo, ou seja, uma vez tendo emprestado o dinheiro, o esforço necessário para garantir o recebimento do empréstimo; e (iii) o custo das garantias, isto é, se o cliente não paga o empréstimo, o custo para cobrar as garantias dadas pelo financiamento (carro, casa e outros ativos). 

Estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sugerem que a eliminação de custos administrativos elevaria o PIB per capita brasileiro em 7%, enquanto que, com menor custo de monitoramento, o avanço seria de 2,4%; e com garantias colocadas nos níveis de países desenvolvidos, 12%. Isso significa mais dinheiro disponível para o empreendedor financiar negócios em um ambiente mais dinâmico e seguro juridicamente, porque, atualmente, são necessários quatro anos para recuperar o crédito concedido no país, sendo que nos Estados Unidos esse processo leva apenas um ano. Além disso, estima-se que, no Brasil, a cada dólar de inadimplência, menos de 13 centavos são recuperados. No México, esse valor chega a 67 centavos.

Diante desses desafios, há caminhos importantes para tornar o processo de análise e concessão de empréstimos mais adequado à realidade dos negócios inovadores. Foi ouvindo os empreendedores que lideram esses negócios que elaboramos a agenda para o alto crescimento do Brasil, que discute os desafios que se colocam diante dos candidatos à Presidência para que o empreendedorismo, a principal alavanca para o crescimento e o desenvolvimento do nosso país, tenha seu impacto ampliado. Para isso, é preciso reduzir as distorções burocráticas no ambiente de negócios que atrapalham o crescimento, a produtividade e a geração de emprego e renda. O acesso a crédito é um desses grandes desafios que possuem grandes oportunidades para que inovações tecnológicas e financeiras aumentem a eficiência do mercado, a concorrência bancária e, assim, aumentar a oferta de crédito para os empreendedores.


*Coordenador de Políticas Públicas da Endeavor

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