Geração prateada no mercado de trabalho

11/08/2021 às 17:14.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:39

Maria Inês Vasconcelos*

Não passa despercebidamente. Quem olhar para o lado vai notar que há um acesso democrático ao rejuvenescimento. Rejuvenescer é a palavra da vez e que rouba a cena do trabalho. Há um mar de novas possibilidades que vão desde academia e alimentação a tratamentos estéticos. Por isso, muito embora a lei tenha fixado uma definição para idoso, esse critério é extremamente dinâmico e não pode ter como marco exclusivo o puramente cronológico.

O mercado de trabalho é reagente, responsivo e acompanha o fato social. Já notou que o etarismo como critério excludente é um non sense legal e social? Mais do que os cabelos grisalhos, uma ou outra ruga, o trabalho é sempre pela diversidade.

Recente pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que a maior desocupação são jovens entre 14 e 17 anos, com 42,7%, e de 40 a 59 anos, com 9%. Entre os profissionais acima de 60 anos, o desemprego atingiu a marca de 5%. Muitas empresas atualmente querem o profissional de 50 anos ou mais, e essa geração prateada assegura sua posição e traz grandes vantagens. Com a diminuição do choque de gerações, hoje encurtado, as equipes passaram a ter profissionais de múltiplas fases.

A ideia de que a vida tem fases ou ciclos e que, após os 50 anos, se entraria na última etapa, é algo completamente inaplicável no século XXI. O que vemos hoje é a vida pulsando para essa geração do ponto social e biológico, sem nenhum corte em relação à vida precedente. A linha do tempo segue sem recortes.

No mercado de trabalho, o preconceito e a falta de informações diminuíram. A realidade são processos seletivos mais inclusivos. Os dados revelam que as contratações acima dos 50 anos aumentaram vertiginosamente, e aquela nuvem cinza que pairava sobre o cinquentão seguido da ideia de inflexibilidade, rigidez, falta de intimidade com tecnologia, pouca agilidade e custo foram substituídas por uma visão mais atualizada e democrática.

O profissional maduro está explodindo de energia e vitalidade. Se olharmos ao nosso redor, veremos que essa geração nunca esteve tão em alta. As empresas brasileiras estão cada vez mais atentas, e o melhor é que estão contratando esse tipo de profissional, pois elas enxergam diversas vantagens.

Geralmente esses profissionais são mais estáveis, têm muita inteligência emocional, já leram muito mais que a maioria dos adultos jovens. Eles costumam ser mais maduros, humildes e negociam salário sem a ganância própria da juventude. Trazem vida e metafísica para o ambiente de trabalho, têm bom network, rede de amizades consolidada e levam clientes para as empresas. As agências bancárias, principalmente, valorizam muito esse tipo de profissional que chega não só com a bagagem humana, mas também com a carteira lotada de clientes.

Em geral, os “cabeças de prata” são mais comprometidos, mais responsáveis e fiéis - e não dão um tanto de “pinotes “e “birra “como, por exemplo, um jovem de 24 anos, que acredita ser o sumo do supra sumo. Partindo de uma visão narcísica, se acham os mais capazes, os insubstituíveis e, no que pertine ao acatamento de ordens, tendem a ser mais voluntariosos, apresentando também dificuldade de trabalhar em equipe.

Os profissionais com mais de 50 anos não buscam tal reconhecimento e, em geral, não precisam de muito treinamento. Ou seja: trazem o cliente e geram menos despesas. Dessa forma, o etarismo ou ageísmo é visto atualmente com maus olhos. Se antes se discriminava, hoje o mercado quer incluir. Essa inclusão decorreu da evolução cultural e social. Rompeu-se com a cultura do velho, hoje substituída pelo conceito de maturidade profissional.

Há muitos desafios, inclusive, a mudança fulcral, que é legal, pois a idade infelizmente ainda é tratada como doença. Mas os bancos, as financeiras e as grandes corporações já viram que a cabeça de prata vale ouro. É um novo ciclo onde a vida vence.

*Advogada, pesquisadora, professora universitária e escritora

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