Graduação em atenção básica é falácia de maus políticos

12/07/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:15

Antonio Carlos Lopes*

Há hoje, entre muitos gestores, um discurso enviesado e perigoso. Fala-se em graduar médicos para a atenção básica, ignorando que a medicina é uma ciência complexa. Que o doente é um ser humano e está sujeito a males que vão bem além das gripes e dores de barriga.

Do ponto de vista da organização do sistema de assistência, a atenção básica, também conhecida como primária, nada mais é do que a porta de entrada do paciente. É onde ele deve receber informações sobre prevenção e cuidados para doenças mais simples. Também é a peneira que filtrará os casos corriqueiros da alta complexidade. É, enfim, uma solução racional.

Já sob a ótica da assistência ao ser humano, tal compartilhamento não cabe. O profissional da medicina tem de estar preparado para atender um doente em todas as suas necessidades. Para tanto, precisa de uma formação integral e deve gostar de gente. Essa, aliás, é a chave da boa medicina. Jamais será bom médico aquele que vê o paciente como uma fonte de lucro.

Atenção básica em um território tão vasto quanto o brasileiro deve contemplar de forma universal as demandas de saúde dos menos favorecidos. Mas falta tudo por aqui: relação médico-paciente, infraestrutura, medicamentos. 

Medicina exige envolvimento e amor. A relação médico-paciente é o segredo para a evolução positiva de todo e qualquer paciente.

Portanto, erra e errará sempre aquele que defende graduação dirigida à atenção básica. É como ver a doença sem levar em consideração que o importante mesmo é o doente.

O paciente tem de ser atendido por um médico com formação humanística; não com aprendizagem elementar ou predominantemente tecnicista. Precisa ser examinado em sua integralidade. Necessita de atenção total.

Atendimento básico somente é discurso vazio de quem de medicina não sabe absolutamente nada. Daqueles que preferem dividir o ser humano em classes, criando uma porta de entrada estreita para os menos apoderados economicamente, bem longe daquela que a classe A terá a seu dispor para ampará-la em todas e quaisquer dificuldades de saúde.

Essa visão nos levou ao Mais Médicos. Trata-se de um atestado público de quem não se preocupa com a saúde coletiva. Se contrário o fosse, não teríamos agora no atendimento aos mais vulneráveis socialmente mão de obra sem qualificação comprovada, como a prestada nos rincões e nas periferias.

O paciente, aqui ou em qualquer parte do mundo, merece respeito, deve ser tratado com humanismo, amor e responsabilidade.

(*) Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

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