Mineração e sustentabilidade

29/08/2018 às 21:41.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:11

  O setor da mineração e demais segmentos da economia brasileira passaram por grandes desafios nos últimos cinco anos. A queda acentuada dos preços e da demanda mundial dos minérios, aliada à crise política e de credibilidade do país, trouxe a redução significativa da participação da indústria extrativa mineral no PIB nacional. Segundo o Ministério de Minas e Energia, o comércio exterior do setor mineral apresentou, em 2017, um superávit de US$ 23,4 bilhões, significando um crescimento de 30 % em relação ao ano anterior, além de se configurar no maior índice de crescimento desde 2012. As vendas externas de minérios representaram 11% das exportações brasileiras, demonstrando o peso da mineração no PIB nacional. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Mineração revelam que o setor responde, atualmente, por cerca de 7% do PIB brasileiro, o que permite afirmar que investimentos neste ramo poderão trazer um significativo desenvolvimento para a nossa nação. Não obstante, uma tragédia ambiental ocorrida em 5 de novembro de 2015 trouxe à tona importantes reflexões sobre a sustentabilidade dos projetos de mineração. Naquela data, houve o rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco, uma joint venture da empresa brasileira Vale e da anglo-australiana BHP Billiton.  Tal rompimento liberou um volume aproximado de 34 milhões de metros cúbicos (m3) de lama e rejeitos de minério de ferro, que resultaram em intensa destruição nos povoados próximos. Houve ainda diversos outros impactos que se estenderam através do Rio Doce, atravessando os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e chegando ao mar, em uma extensão total de 650 km.  Além dos prejuízos materiais e humanos causados por esse desastre, houve a manifestação maciça de entidades representativas da sociedade brasileira cobrando a reavaliação dos impactos devidos à mineração, bem como o aperfeiçoamento dos mecanismos de controle e prevenção de falhas nos empreendimentos minerais. As preocupações e ações das autoridades e dos empresários têm aumentado, trazendo a recuperação gradativa da credibilidade da mineração frente às questões de segurança e preservação do meio ambiente. De acordo com dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o Brasil possui 662 barragens e cavas exauridas com barramento no país. Desse volume, cerca de 80% são classificadas como de baixo risco de desastres, 15 % como médio risco e 5% como de alto risco. Os números exibem o tamanho do desafio das entidades fiscalizadoras e das empresas para minimizar os riscos de acidentes no armazenamento de rejeitos.  Mineradoras têm se destacado na implementação de soluções inovadoras, eliminando a necessidade de barragens de rejeito. É o caso do projeto S11D, da empresa Vale, no Pará. Neste projeto, o minério de ferro é beneficiado sem utilização de água, gerando rejeitos secos que são empilhados posteriormente. Alternativas, ainda em estudos em laboratório e escala piloto, propõem a utilização dos rejeitos na construção civil, tendo-se assim a substituição da areia e brita na produção do concreto.  Conclui-se, desta forma, que a sustentabilidade dos novos projetos de mineração é uma questão imprescindível para a perpetuação e desenvolvimento do universo produtivo nacional. *JÔNATAS FRANCO CAMPOS DA MATA  é mestre em Tecnologia Nuclear, Doutorando em Tecnologia Mineral e Professor do Curso de Engenharia de Minas das Faculdades Kennedy de Belo Horizonte e NELSON FERREIRA FILHO é Doutor em Engenharia de Produção, Coordenador e Professor do Curso de Engenharia de Produção das Faculdades Kennedy de Belo Horizonte.

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