MUNICÍPIOS FALIDOS

04/01/2017 às 20:34.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:18

Antônio Álvares da Silva*

O município, embora seja a menor unidade da República Federativa do Brasil, é a mais importante do ponto de vista político e social. O indivíduo nasce, alfabetiza-se, torna-se independente e ingressa no ciclo da cidadania. Afirmações modernas de alguns sociológicos e psicólogos dizem que o ser humano tem a marca central de vida até os três anos de idade. Depois, cresce e evolui, mas identificado por esta marca.

É no município, e não nas capitais, que a população se concentra. Se encontra condições de trabalho e vida, fica no núcleo onde nasceu, perto da família e do ciclo social a que pertence. A mudança para cidades grandes, que hoje é uma necessidade para aqueles que têm como propósito uma formação acadêmica melhor. 

Pouco adianta afirmar-se que hoje as universidades se estendem ao interior constituindo unidades de seus cursos. Isso é verdade. Mas ninguém garante que o estudante vá encontrar um emprego na cidade em que se formou. Também a qualidade do ensino muitas vezes não é boa, perdendo o bacharel interiorano na concorrência.

Nossos municípios, que deveriam ser a célula vital da cidadania, estão lastimavelmente falidos. O endividamento é extremo. A pobreza grassa, a falta de empregos é um fato inegável. Agora mesmo assistimos à luta dos municípios para pagar suas dívidas. É claro que não vão conseguir num tempo próximo. Vão ficar trabalhando para pagarem o que devem, deixando de lado seus compromissos com o povo.

Por que os municípios estão nesta situação? A resposta é fácil. A dívida pública, juntamente com a do Estado a que pertencem, é impagável. Estaremos patinando nesta contradição: o pouco que se paga é engolido pela dívida corrigida.

A causa endividamento dos municípios (e também dos estados a que pertencem) está na administração: gastos exagerados com tudo, desonestidade funcional, excesso de servidores, arrecadação insuficiente. Enquanto isto, a dívida cresce em proporção muito maior.

Se a dívida é incobrável, o melhor é desistir dela e montar, através da União Federal, um plano de saneamento dos Estados e Município, que seriam dirigidos por uma junta administrativa juntamente com o prefeito, até que a ordem administrativa estivesse perfeitamente estabelecida. 

Então uma lei fixaria condições permanentes de administração, com uma série de exigências e condições que deverão ser seguidas. A desobediência a estas normas seria julgada pela comissão imediatamente e o recurso só poderia ser apreciado nos aspectos formais, tal como nos atos administrativos.

Ou tomamos medidas radicais como essa, o ficaremos neste vai vaivém com prefeitos angustiados, estendendo o chapéu para a União, a fim de receber verbas para poder administrar.

O resultado de tudo isto, mais uma vez, é jogado para os ombros de quem trabalha, que ficará sem escolas, obras públicas, saúde e segurança. E a miséria do povo será mais uma vez a causa impune do enriquecimento dos políticos.

(*) Professor titular da Faculdade de Direito da UFMG
 

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