Aristoteles Atheniense*
A notícia divulgada na semana passada (“Estadão”, 14/10/16) de que Michel Temer poderá convidar Rodrigo Maia para acompanhá-lo em nova viagem ao exterior, não deve constituir surpresa a quem segue os meandros da vida pública. Se isto ocorrer, Renan Calheiros assumirá a Presidência. Não é de se estranhar, em razão das inúmeras funções que o presidente do Senado já exerceu, mesmo em fases críticas, quando parecia estar prestes a encerrar a sua trajetória.
Há, ainda, a possibilidade de Calheiros vir a ocupar o Ministério da Justiça, pasta que assumiu no governo de FHC. Não há em nenhuma dessas hipóteses qualquer paradoxo, levando-se em conta a contribuição dada a Dilma Rousseff no apagar das luzes do processo de seu impeachment.
O desgaste que Alexandre de Moraes vem sofrendo, leva-nos a admitir que a sua permanência como ministro corre o risco de ser abreviada, inobstante o apoio recebido de Geraldo Alckmin, que fez dele o seu Secretário de Segurança Pública.
É fato notório que Renan responde a dez inquéritos junto ao STF. Mas isso não importa, nem retira de Calheiros o fôlego excepcional que tem em angariar prestígio, mormente quando ainda pende de votação na Câmara Alta a PEC 241. Essa é decisiva para assegurar a Temer resultados significativos, como a reforma da Previdência Social e a Tributária, que têm no ministro Henrique Meirelles o seu corifeu.
Esse jogo de interesses é de fácil explicação: enquanto um político só pensa na próxima eleição, o verdadeiro estadista pensa na próxima geração.
Diante de tantas e seguidas peripécias cometidas por Renan Calheiros, há uma expectativa em saber se o seu percurso será o mesmo de Eduardo Cunha. Este, por mais astuto que fosse, não tinha um currículo tão palpitante quanto o de Calheiros, será julgado por Sérgio Moro e sua prisão há muito era aguardada.
A prevalecer o entendimento de que política e religião não comportam discussões, os sagazes continuarão sempre no poder, enquanto os falsos profetas permanecerão a pregar, iludindo a boa-fé alheia. Cabe ao governo atual evitar que isto aconteça, não concorrendo para que Calheiros torne-se um de seus ministros e que venha a assumir, mesmo transitoriamente, a cadeira presidencial.
(*) Advogado e conselheiro nato da OAB, diretor do IAB e do Iamg, presidente da AMLJ