Não se assustem

21/10/2016 às 21:19.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:20

Aristoteles Atheniense*

A notícia divulgada na semana passada (“Estadão”, 14/10/16) de que Michel Temer poderá convidar Rodrigo Maia para acompanhá-lo em nova viagem ao exterior, não deve constituir surpresa a quem segue os meandros da vida pública. Se isto ocorrer, Renan Calheiros assumirá a Presidência. Não é de se estranhar, em razão das inúmeras funções que o presidente do Senado já exerceu, mesmo em fases críticas, quando parecia estar prestes a encerrar a sua trajetória.

Há, ainda, a possibilidade de Calheiros vir a ocupar o Ministério da Justiça, pasta que assumiu no governo de FHC. Não há em nenhuma dessas hipóteses qualquer paradoxo, levando-se em conta a contribuição dada a Dilma Rousseff no apagar das luzes do processo de seu impeachment.

O desgaste que Alexandre de Moraes vem sofrendo, leva-nos a admitir que a sua permanência como ministro corre o risco de ser abreviada, inobstante o apoio recebido de Geraldo Alckmin, que fez dele o seu Secretário de Segurança Pública. 

É fato notório que Renan responde a dez inquéritos junto ao STF. Mas isso não importa, nem retira de Calheiros o fôlego excepcional que tem em angariar prestígio, mormente quando ainda pende de votação na Câmara Alta a PEC 241. Essa é decisiva para assegurar a Temer resultados significativos, como a reforma da Previdência Social e a Tributária, que têm no ministro Henrique Meirelles o seu corifeu. 

Esse jogo de interesses é de fácil explicação: enquanto um político só pensa na próxima eleição, o verdadeiro estadista pensa na próxima geração.

Diante de tantas e seguidas peripécias cometidas por Renan Calheiros, há uma expectativa em saber se o seu percurso será o mesmo de Eduardo Cunha. Este, por mais astuto que fosse, não tinha um currículo tão palpitante quanto o de Calheiros, será julgado por Sérgio Moro e sua prisão há muito era aguardada.

A prevalecer o entendimento de que política e religião não comportam discussões, os sagazes continuarão sempre no poder, enquanto os falsos profetas permanecerão a pregar, iludindo a boa-fé alheia. Cabe ao governo atual evitar que isto aconteça, não concorrendo para que Calheiros torne-se um de seus ministros e que venha a assumir, mesmo transitoriamente, a cadeira presidencial.

(*) Advogado e conselheiro nato da OAB, diretor do IAB e do Iamg, presidente da AMLJ 

 

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