Celso Tracco*
A eleição presidencial de 2018 foi histórica em muitos aspectos e talvez o resultado possa mudar o rumo da, ainda jovem, democracia brasileira. O primeiro aspecto que devemos observar é que o Partido dos Trabalhadores (PT) participou de todas as eleições diretas para presidente desde 1989, vencendo em 2002, 2006, 2010 e 2014. Isto não é de se desprezar, afinal o partido foi fundado em 1980 e a estrutura surgiu de uma inusitada união entre intelectuais de esquerda e uma forte base sindical.
Operacionalmente, para alcançar rápida capilaridade, usou, entre outras estratégias, a rede das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica (CEB’s). Com isso, tomou conta das periferias das grandes cidades.
Em 2018, o PT chegou mais uma vez ao segundo turno, mesmo em condições adversas, pois seu principal dirigente político está preso desde abril.
O segundo aspecto é que tivemos o improvável surgimento da candidatura de um ex-capitão do Exército que se tornou deputado federal em 1990 e sempre foi, em sua vida pública, um opositor do PT. Destacou-se mais pelo seu tipo de comunicação, severo e autoritário, do que pelos seus feitos parlamentares. Na verdade, Jair Bolsonaro nunca usou uma estrutura partidária. Na vida parlamentar, passou por oito partidos, o que prova que o sistema político brasileiro está desgastado, é anacrônico e não representativo.
Com discurso de extrema-direita, de ordem e progresso e de liberalismo econômico, um parlamentar sem dinheiro, sem apoio partidário, sem tempo de televisão, sem apoio da mídia, baseando sua comunicação com os eleitores via mídias sociais, derrotou os maiores partidos brasileiros .
A alternância de poder é saudável, mas infelizmente o poder corrompe. O PT, em certo sentido, foi vítima do próprio veneno. Encastelado no poder, esqueceu-se de suas origens, das periferias. Não promoveu as reformas necessárias e seu populismo de esquerda levou o país à maior recessão da história. A história se repete. Esperemos, para o bem do país, que o fim seja diferente.
(*)Economista e autor do livro ‘’Às Margens do Ipiranga _ a esperança em sobreviver numa sociedade desigual’’