O gosto pelo poder

07/12/2017 às 18:39.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:07

Aristoteles Atheniense*

Faltando menos de um mês para o término do ano, a reforma da Previdência continua emperrada em razão de múltiplos obstáculos. Os interesses partidários, a eleição de 2018, as divergências surgidas na própria base aliada, concorrem negativamente para a edição da PEC 287/2016, inobstante a importância de que se reveste no processo de recuperação da economia.

Sucede que, nos últimos dias, sobreveio um novo fato. Agora, há quem sustente que os efeitos da reforma condicionarão o resultado do pleito vindouro, fortalecendo o presidente Michel Temer e a reeleição dos parlamentares que se empenham no desfecho da emenda constitucional.
Segundo estimativas em curso, a mudança projetada, com os reflexos que terá nas contas públicas, importará no fortalecimento do governo federal, em que pese o seu desgaste atual.

A deliberação do Congresso, ainda que não ocorra nos exatos termos da proposta primitiva, seria um fator relevante para que, também, Temer venha a disputar a eleição. É o que poderá ocorrer, mesmo tendo assumido perante a opinião pública o compromisso de que não permaneceria um dia sequer após 1º de janeiro de 2019 no exercício da presidência.

Ocorre que, na política, mais do que a coerência, o que pesa e interessa é o resultado. Assim, ao governante, mesmo que impopular e desgastado, não é vedado optar por um rumo diverso daquele que inicialmente se comprometera a tomar.

Essa hipótese, ainda que possa parecer absurda, em face da desaprovação de Temer nas pesquisas eleitorais, não poderá ser descartada. Na medida em que conseguir promover queda no desemprego, na inflação, o restabelecimento da saúde pública e educação, os eleitores poderão lhe conceder o apoio necessário caso pretenda continuar em Brasília.

A quebra do compromisso assumido quando de sua posse, não terá maior repercussão, mormente se houver a reativação do crescimento, ainda que gradativa.

Em seu favor, temos a fragilidade das candidaturas encenadas, a incerteza dos eleitores na escolha que farão, as artimanhas de Padilha e Moreira Franco na distribuição das benesses, que constituem o oxigênio mais valioso para assegurar a permanência de Temer. 

Aquilo que hoje é considerado mera ficção, com o passar do tempo e atendimento dos interesses partidários, poderá ser convertido em realidade. Mesmo porque, em nosso Brasil tudo é possível, dependendo somente das vantagens que as alterações inseridas no quadro político possam trazer. 

(*) Advogado e conselheiro nato da OAB, diretor do IAB e do iamg

  

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