O peso da desilusão

03/11/2016 às 20:09.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:30

Paulo Paiva*

Apurados os votos do segundo turno das eleições municipais, desmontados os palanques e encerrada a propaganda, os vencedores passam a enfrentar a dura realidade de governar em condições adversas, quer pela grave crise fiscal, quer pela profunda crise política. Além de apontar vencedores e perdedores, analistas e comentaristas se apressam a defender a tese de que a proporção de eleitores que deixaram de votar indica a desilusão com a política. 

A derrota do PT não pode ser interpretada como vitória de uma nova onda conservadora no país. Seria mais prudente atribui-la aos resultados desastrosos das administrações petistas, que resultou na combinação de corrupção com recessão. 

As vitórias de Crivella, Dória e Kalil, também, não podem ser creditadas apenas ao apelo antipolítico. Atributos pessoais, graus de exposição à mídia, apoios de máquinas partidárias, explícitas ou não, e voto útil tiveram papeis relevante em suas vitórias. Também, não procede a afirmação de que a soma de abstenções, votos em branco e nulo indicam rejeição ao processo eleitoral e aos políticos brasileiros.

Ao longo do tempo, abstenções estão aumentando em ritmo superior ao crescimento do eleitorado, em razão de fatores demográficos. Cito dois. O envelhecimento da população resulta no aumento da proporção de eleitores com mais de 70 anos, cujo voto é facultativo. Outro grupo de eleitores ausentes são os jovens que, registrados no domicílio eleitoral dos pais, já saíram de suas casas, sem mudar seus títulos eleitorais.

Relevante são, sim, os votos em branco e nulos. Comparando as eleições de 2012 e 2016, foram os votos nulos que aumentaram no primeiro turno. Em São Paulo passaram 7,35% para 11,35%, no Rio de Janeiro, de 8,48% para 12,76%, e em Belo Horizonte, de 5,79% para 14,28%. Variação proporcional significativa, mas, em número de eleitores, pouco expressiva para justificar a tese.

O peso da desilusão foi, em certa medida, mascarado pelo voto útil.

(*) Professor da Fundação Dom Cabral, foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

 

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