O peso do smartphone

19/11/2018 às 07:00.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:52

Ênio Ribeiro Reis (*)

Basta olhar para o lado e logo se vê alguém com a cabeça baixa, olhos fixos no celular e dedos deslizando sobre a tela, alternando entre sites e aplicativos diversos. A cena, comum na atualidade, tem alarmado muitos médicos devido às consequências graves da má postura. O problema já tem nome: “síndrome do pescoço de texto”, também conhecida como “text neck”. 

Pesquisas recentes revelam que a postura incorreta pode causar tensão muscular, nervos comprimidos, hérnias de discos cervicais e, ao longo do tempo, modificar a postura natural do pescoço, dentre outras complicações. Os especialistas são enfáticos em categorizar o transtorno como uma epidemia global. Em média, os brasileiros desbloqueiam o celular 78 vezes ao dia, conforme levantamento da Global Mobile Consumer Survey. A base do país já conta com um smartphone por habitante (FGV-SP). 

Não se trata de negligenciar a importância da tecnologia, pois ela faz parte do processo civilizatório do homem e facilita muito a relação entre as pessoas. O fato é que os riscos existem, são evidentes e podem ser prevenidos. Estudos comprovam que, a cada polegada que a cabeça inclina-se para frente, a pressão sobre a coluna duplica. Imaginemos carregar uma criança ao redor do pescoço durante horas a fio. É a mesma coisa. As pessoas não percebem que erram na postura. O importante é estar atento para realizar os movimentos corretos e evitar maiores transtornos. O pescoço não foi construído para suportar muita pressão durante períodos prolongados. É importante fazer exercícios que despertem a consciência corporal. Dois deles vêm ganhando a atenção dos brasileiros: Yoga e Pilates.

Em uma pesquisa realizada no Canadá, 124 participantes (entre 140 estudantes e funcionários de uma universidade) relataram passar mais de uma hora por dia enviando snapchats e mensagens de texto. O mesmo estudo associou o tempo de utilização de aparelhos celulares a dores na cervical, nos ombros e nas mãos. A mesma constatação foi encontrada num outro levantamento, agora na Finlândia. Os entrevistados destacaram a presença de dor no pescoço (48%), ombros (32%) e punho/dedos (19%).

Outras atividades, como ler um livro impresso ou lavar pratos, também demandam inclinação da cabeça, mas a diferença é que nas telas, os usuários gastam muito mais tempo e são menos propensos a mudarem de posição. Uma das consequências mais graves provocadas pela má postura é a famosa dor na coluna, um tipo de enfermidade que atinge oito em cada dez pessoas no mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, é a doença que mais afasta os trabalhadores por mais de 15 dias do emprego, o que equivale a 4,71% de todos os afastamentos, segundo o ranking de auxílios-doença concedidos pelo INSS.

Muito se fala sobre as mudanças de comportamento ocasionadas pela presença tecnológica na sociedade. É verdade que neste jogo de telas a prudência é um elemento essencial, sobretudo quando envolve saúde. Mais importante que plugado é manter-se saudável.

(*) Presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia

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