O que vivemos, vivemos

02/03/2021 às 18:24.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:18

Claudio Felisoni de Angelo*

A tarde de 5 de novembro de 2015 jamais será esquecida. Rompeu-se uma barragem de rejeitos operada pela mineradora Samarco, empresa controlada pela Vale. O evento devastador despejou sessenta e dois milhões de resíduos, afetando nada menos que 230 municípios.
A crise que hoje vem vitimando o mundo, em razão da Covid-19, guarda, sem dúvida, um importante paralelo com o terrível fato acontecido há quase cinco anos. A onda de rejeitos que engoliu os municípios mineiros, produziu morte e também desorganizou a sociedade e a economia das áreas atingidas.

A crise atual não tem paralelos com outras situações econômicas passadas. Na verdade, o vírus altamente contagioso se espalhou pelo mundo inteiro gerando desorganização social e econômica. Portanto, a caracterização mais apropriada é dizer que estamos diante de uma crise sanitária com reflexos devastadores sobre a economia.

Essa comparação com um acidente ambiental é mais adequada, pois a solução está além da economia. A exemplo dos municípios atingidos, o processo de reconstrução é mais complexo e demorado. Porém, sobre os escombros, por certo, muitas coisas novas devem surgir. Coisas que não seriam erguidas, ou seriam, mas somente em um horizonte bem distante.

O que virá após essa pandemia seguramente será diferente do que havia antes. A extensão da crise e a duração estão mudando o comportamento das pessoas. A segregação social e a disponibilidade de novos meios de comunicação empurram os indivíduos para novas experiências.

A incorporação desses meios já vinha ocorrendo. Por exemplo, a ligação entre lojas físicas e virtuais há muito tempo tem sido uma preocupação recorrente dos gestores do varejo. Mas, a crise acelerou as mudanças: a necessidade é a mãe da criatividade. O mesmo pode-se dizer do home office.

As pessoas, como se disse, estão testando novas possibilidades e superando o medo do novo. Quando a onda do vírus passar, elas estarão habituadas a caminhar com outros sapatos: mais cômodos. De modo geral, quem compra um carro automático e fica com ele algum tempo não vai mais adiante substitui-lo por um mecânico. O que vivemos, vivemos. Nossas experiências moldam nossa história. Moldam o que somos e o que desejamos.

*Presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar)

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