Aristoteles Atheniense*
A cada dia que passa, torna-se mais evidente o propósito lulista de esvaziar a atuação da Lava Jato, de modo a “estancar essa sangria”, como foi sugerido por Romero Jucá, presidente do PMDB. Não bastasse o esforço da oposição na persecução dessa iniciativa, sucedem pronunciamentos desencontrados de ministros do atual governo, contribuindo para a desqualificação de uma tarefa que tem significado decisivo na luta contra a corrupção.
O episódio ocorrido na Câmara, em prol de uma anistia para quem se valeu de caixa dois nas últimas campanhas eleitorais, tornou-se o sinal mais evidente da existência de uma operação clandestina, além de anônima, para evitar a punição de conhecidas figuras da política nacional.
Essa atitude teve como causa a sempre aguardada delação de Marcelo Odebrecht, que colocaria em risco os mandatos de 300 parlamentares contemplados por ajuda semelhante àquela concedida no mensalão. Enquanto Temer, em discurso na ONU, sustentava a impossibilidade de uma democracia “sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos”, o ministro-chefe da Casa Civil, Geddel Vieira Lima, pugnava por um tratamento diverso ao sustentar a inexistência de qualquer vício na medida, que contou com o apoio da parceria Rodrigo Maia (DEM) e Renan Calheiros (PMDB).
Não menos despropositado foi o pronunciamento do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, antecipando-se à prisão de Antonio Palocci. A senadora Vanessa Grazziotin anunciou a convocação de Moraes para se explicar perante o Senado, além de outras providências que importarão fatalmente no desgaste e enfraquecimento do presidente. Some-se a estes fatos o recuo de Sérgio Moro na prisão de Guido Mantega, levado por motivo de condescendência ante a anunciada cirurgia da esposa do investigado.
A ser verdade que o PT atravessa uma fase difícil que inviabiliza a anunciada candidatura de Lula em 2018, forçoso é reconhecer que, também, o governo Temer está a carecer de novo rumo, impedindo que novos fatos concorram para o seu descrédito. Urge que o presidente contenha seus auxiliares, de modo a não emitirem considerações apressadas que colocam em risco a esperança do povo, com o revigoramento ético e administrativo do país.
(*) Advogado e conselheiro nato da OAB, diretor do IAB e do IAMG e presidente da AMLJ