O veneno nosso de cada dia

24/03/2017 às 21:23.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:52

Padre João*

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Quando se fala em alimentação saudável, a referência da maioria da população brasileira está relacionada a uma alimentação rica em legumes, frutas e verduras. Mas por trás desse consumo há uma indústria lucrativa que produz em larga escala pesticidas, praguicidas, biocidas, agroquímicos e uma série de “defensivos” agrícolas que chegam de forma sorrateira e invisível à mesa do consumidor. Segundo a Campanha Nacional Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, os brasileiros consomem, por ano, 7,3 litros de veneno.

Em fevereiro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento divulgou que em 2016 foram registrados 277 novos agroquímicos, um recorde histórico. Países da União Europeia e EUA proíbem mais da metade das substâncias consumidas aqui. 

As falhas relacionadas ao uso de agrotóxicos são muitas. Entre elas: deficiência no registro e fiscalização, subnotificação das ocorrências médicas, carência de pesquisas e riscos na pulverização aérea e terrestre.

O Instituto Nacional do Câncer alerta para os malefícios causados pelo uso intensivo de agrotóxicos à saúde dos trabalhadores rurais e à população, além do impacto ambiental. “Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes de agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, má formações, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer”, afirma o órgão.

Qual a alternativa? A agroecologia é um dos caminhos, baseada na diversificação produtiva e na recuperação ambiental: limpa, de baixo custo e em equilíbrio com o meio ambiente. Existem técnicas acessíveis que possibilitam o abandono de venenos, adubos químicos e medicamentos. 

No Congresso há uma série de projetos em tramitação que exigem maior controle na produção, consumo e fiscalização do uso de agrotóxi-cos. Paralelamente há também dezenas de PLs que visam afrouxar a legislação, permitindo que mais químicos sejam incorporados ao campo. 

A prevalência do interesse econômico em detrimento da preocupação com a saúde do brasileiro pode desencadear problemas irreversíveis. A otimização da capacidade produtiva deve estar em harmonia com a conservação da biodiversidade, a justiça social e, sobretudo, o respeito à população.

(*) Deputado federal
 

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