O verdadeiro legado olímpico

06/09/2016 às 20:05.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:43

Luis Fernando Correia*


A necessidade de que um país que se propõe a ser uma potência olímpica em ter um laboratório para realização dos exames de controle em uma política antidoping.

As técnicas utilizadas habitualmente para esses testes envolvem o uso de análises por ensaios imunológicos e por espectrometria gasosa, que são muito caras e demandam investimentos vultuosos e constantes.

A coleta e preservação das amostras de sangue e urina onde são feitos os exames precisam de complexas estruturas de controle e transporte, já que são materiais muito sensíveis à temperatura e precisam ser examinadas logo. Talvez seja tempo de se discutir a oportunidade da utilização de uma tecnologia que já existe e que é muito mais simples e que tem entre outras vantagens já ser aceita e ter validade em cortes de justiça em todo o mundo. Estamos falando da pesquisa da utilização de substâncias químicas pelos indivíduos através do teste de amostras de cabelos e pelos corporais.

Em 2013, Sir Craig Reedie, da Agência Mundial Antidoping (WADA) anunciou que um fundo de 6 milhões de libras esterlinas foi destinado pelo Comitê Olímpico Internacional (IOC) para o desenvolvimento de novos testes e protocolos para pesquisa de drogas proibidas por atletas. O dirigente ressaltou em entrevista à BBC que a facilidade de coleta, não invasiva, pois evitava a coleta de sangue e também a facilidade no transporte das amostras, fazia do teste do cabelo uma alternativa interessante para o controle antidoping.

Além do uso para os esportes competitivos os testes de cabelos que são amplamente usados pela indústria do petróleo, companhias aeronáuticas e forças de segurança através do mundo podem ser muito eficientes na prevenção do uso de drogas ilícitas por atletas em seus momentos de descanso entre as temporadas.

Um projeto piloto foi realizado na Austrália, em seu peculiar tipo de futebol. A principal liga australiana de futebol passou a realizar o teste do cabelo, que tem uma janela de detecção ampla, podendo chegar a 3 meses após o uso das substâncias pelo atleta. Os resultados mostraram o tamanho do problema do uso de drogas por atletas, pessoas que são reconhecidas por todas as sociedades como exemplos e modelos de saúde.

Mesmo em nosso país várias vezes somos surpreendidos por notícias de atletas envolvidos no uso de drogas porque foram pegos nos exames antidoping. Temos que discutir como podemos criar programas de prevenção do uso de drogas desde as escolinhas de esportes, passando pelas divisões iniciais, para que os atletas não estraguem suas carreiras por falta de orientação e intervenção de tratamento, já que a dependência química é uma doença e deve ser encarada pelo ponto de vista de saúde pública.

Portanto, devemos discutir tecnicamente a possibilidade de incluir os exames de ampla janela, os testes do cabelo, na política de antidopagem que se propõe a ser mais um dos legados olímpicos no Brasil.

*Dr. Luis Fernando Correia é medico (clínico geral) e integrante do Conselho Consultivo do Instituto de Tecnologias para o Trânsito Seguro (ITTS).

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