Os dois lados da política

27/09/2018 às 21:11.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:41

Paulo Dalla Nora*

É consenso que vivemos um dos períodos de mais intensa polarização política na história recente do Brasil e do mundo: movimentos extremos ganham voz e mobilizam seguidores. A política como instrumento de busca e formação de um ponto de equilíbrio, onde os diversos grupos sociais se sintam representados e não haja sentimento de derrota de alguns, parece ter perdido força.

Assistimos ao desentranhamento de um novo uso para a política: uma ferramenta para impor um lado através da destruição das ideias do oponente. Deixa-se de ter adversários e passa-se a ter inimigos. Essa visão da política como terreno de confronto parte do pressuposto que é possível uma vitória total, como se fosse possível “aniquilar” o oponente e implanta apenas um lado da agenda. A realidade é que não existe força política no Brasil capaz de tal façanha e na democracia as vitórias são sempre parciais. Ainda bem.

Um dos pontos de maior debate é o papel das redes sociais no engajamento cívico e político dos cidadãos. A primeira questão que se coloca é a dúvida quanto aos pesos dos aspectos negativos e positivos que a nova tecnologia impulsiona: em que medida essas novas ferramentas criam distanciamento e fricção entre os cidadãos e seus representantes e a política, ao exigir um comportamento “purista” e sem concessões dos mesmos.

Outra hipótese seria a proximidade que a tecnologia permite emular gerar um fortalecimento do exercício da cidadania e, gerar dessa forma, uma aproximação entre o cidadão e as instituições que os representam. Essa aproximação pode permitir a melhor compreensão da dimensão dos desafios que precisam ser enfrentados e as escolhas associados a eles.

Os que acreditam na política como uma ferramenta de formação de um “terreno do entendimento” têm a responsabilidade e obrigação de trabalhar para que as tecnologias sejam instrumento que também aproxime e engaje o cidadão com os seus representantes, que ajude no entendimento de que compromissos e concessões precisam ser firmados para que o processo político avance objetivamente para impactar nossas vidas.

Não significa que iniciativas que buscam influenciar e legitimamente pressionar para atender a sua agenda não sejam importantes, mas precisamos cuidar para que o espaço da tecnologia não seja preenchido apenas com essa narrativa de confrontamento.

(*) Cofundador do aplicativo Poder do Voto
 

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