os efeitos da crise internacional e os erros de política econômica

02/04/2016 às 20:08.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:45

Luciano Nakabashi (*)

Um debate relevante tem ocorrido sobre os efeitos da crise externa e dos erros de política econômica e outras causas internas no atual cenário de crise que o país atravessa. Alguns analistas e políticos têm enfatizado o papel da crise externa como elemento principal, mas os dados não dão suporte a essa hipótese.

De acordo com os dados do Banco Mundial, os anos 90 foram desafiadores para o país, com muitas coisas que precisavam ser arrumadas depois de uma década perdida como herança dos desajustes do regime militar. Nos anos 90 o país conseguiu domar a inflação, realizou reformas importantes, mas o crescimento exagerado do setor público, a fragilidade nas contas externas e a dificuldade em domar o déficit público continuaram a segurar o avanço do país.

Os anos 2000 foram de colheita das reformas dos anos 90, da manutenção de certas medidas de política econômica que estavam dando certo e da melhora no cenário externo. O país apresentou um crescimento mais favorável, voltando a ter um desempenho melhor do que a média mundial e do que o restante da América Latina (AL). Por exemplo, de 2000 a 2010 o país cresceu uma taxa média de 3,74%, enquanto que as médias de crescimento mundial e da AL ficaram em 2,74% e 3,20%, respectivamente. No entanto, ainda ficamos bem atrás do desempenho médio dos países em desenvolvimento e de baixa renda.

Nos anos 2000, porém, relaxamos na realização de reformas importantes para controlar os gastos do governo e melhorar sua capacidade de investimentos, sendo que as políticas econômicas também começaram a se alterar para medidas mais heterodoxas de estímulos à demanda. Estas foram acentuadas no governo Dilma e as reformas esquecidas quase que por completo. Alguns analistas apontam estas como a principal fonte da crise econômica enfrentada pelo país, sendo que concordo com essa hipótese.

Comparando o período de melhor desempenho recente do Brasil e da AL (2004-2011) com o período posterior, inclusive com as previsões do Banco Mundial até 2018 (2012-2018) que são mais otimistas para o Brasil do que a maioria dos analistas econômicos espera para 2016 e 2017, o país representou uma retração do crescimento em 95,6%. No país, o crescimento médio passou de 4,39% para 0,19% do primeiro para o segundo período, enquanto os números da média mundial são de 2,76% e 2,66%, respectivamente.

Utilizando o restante da AL (excluindo o Brasil) para isolar os efeitos externos, pois esse conjunto de países possui muitas características econômicas e sociais semelhantes ao Brasil, inclusive com desempenho econômico próximo em toda a história, a sua desaceleração foi de 3,92% para 2,55%, ou seja, uma retração de 34,8%. Vamos considerar que esse seja o efeito externo mesmo que alguns países importantes da região tenham cometido consideráveis erros de política econômica e que a desaceleração do Brasil vem afetando a economia dos demais países da AL. Somente com os efeitos externos, o Brasil ainda estaria crescendo a uma taxa média de 2,86%, ou seja, eles são responsáveis por, no máximo, 36,4% da retração do crescimento da economia brasileira, sendo que o restante é decorrente de causas internas, com ênfase nos erros de medida econômica cometidos. No entanto, a corrupção também tem uma parcela de contribuição.

Luciano Nakabashi, doutor em economia, professor da FEA-RP/USP e pesquisador do CEPER/FUNDACE

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