Lucélia de Sena Alves e Mirelle Fernandes Soares
Em mais de 200 anos de história do ensino superior no Brasil, desde a chegada de Dom João VI à Colônia, em 1808, o processo de ensino-aprendizagem no Brasil passou por diversas transformações.
Segundo Laurentino Gomes, no período colonial, mais de 80% da população brasileira era analfabeta. Ser alfabetizado no Brasil era privilégio das elites.
Na época colonial, seguia-se o ensino proposto por Descartes, que separava e reduzia a realidade. O conhecimento científico era unidisciplinar, inexistia conexão entre os campos do saber. O pesquisador limitava-se às fontes de uma só área na produção científica.
O aumento das complexidades interpessoais, percebido em meados do século 20, tornou insuficiente o ensino unidisciplinar para resolver problemas sociais.
Mostrou-se importante enxergar o ensino de forma interdisciplinar a partir da análise de um tema sob a perspectiva de dois ou mais ramos do conhecimento, e, sobretudo, de maneira transdisciplinar, a possibilitar uma pluralização do ensino de maneira menos compartimentada.
Assim, o movimento democratizante do ensino superior brasileiro possibilitou que o processo de ensino-aprendizagem se tornasse indissociável da pesquisa e da extensão.
A pesquisa, que busca soluções ainda não apresentadas pela comunidade científica aos problemas sociais, permite que a cooperação entre as disciplinas conexas apresente soluções melhores e mais adequadas.
Por sua vez, a extensão, por ser uma ação proposta por uma instituição de ensino superior junto à comunidade, possibilita o compartilhamento, com o público externo, do conhecimento adquirido por meio do ensino e da pesquisa desenvolvidos na instituição.
Portanto, a pesquisa e a extensão universitárias apresentam-se como instrumentos eficazes de transformação social, bem como de produções empíricas de resultados.
O diálogo entre a comunidade e as instituições de ensino oportuniza o cumprimento da responsabilidade social das instituições, bem como traz a realidade social para a academia, para ser objeto da pesquisa científica.
Exemplo de diálogo fértil entre instituição de ensino e comunidade é o projeto de extensão “Aluno Inteligente, Consumidor Consciente”, desenvolvido e coordenado pelas professoras Mariana Swerts e Raquel Rabelo, do curso de Direito das Faculdades Kennedy, em Belo Horizonte.
Segundo as professoras, “os graduandos do curso de Direito realizaram um bazar, com roupas arrecadadas por eles e pela comunidade, a fim de demonstrar os excessos no consumo. Além disso, fizeram uma gincana com alunos da Escola Municipal Prof. Tabajara Pedroso, com o intuito de conscientizar, desde a tenra idade, sobre a necessidade do consumo consciente.”
Exemplos como este promovem a construção do conhecimento a partir da realidade, demonstram o compromisso da instituição de ensino com sua responsabilidade social, e, principalmente, ganham a comunidade e os alunos, que se tornam protagonistas dos conhecimentos adquiridos, a possibilitar escolhas mais acertadas aos seus anseios.
Professoras do curso de Direito das Faculdades Kennedy de Belo Horizonte