Mauro Condé* Acabo de voltar de uma excelente viagem rumo ao conhecimento, utilizando como meio de transporte excelentes livros sobre política. Eles me transportaram para Turim, na Itália do ano 1995, onde fui recebido pelo filósofo político Norberto Bobbio. Fui logo pedindo para ele: – Por favor, me ensine algo que eu ainda não saiba e que tenha o poder de mudar a minha vida para melhor. Ele então me respondeu: – “Vou te contar como criei o conceito político vigente de esquerda e direita, que muitos usam sem saber o verdadeiro significado. Observei que o universo político é formado por antagonismos que podem ser redutíveis a relações bipolares (esquerda e direita) com base na orientação de cada lado quanto a valores religiosos, morais, econômicos e sociais. A esquerda defende mais os valores ligados à igualdade. A direita defende mais os valores ligados à liberdade. O centro tende a ser mais moderado em relação aos valores e os extremos, mais radicais. A extrema esquerda defende a igualdade, mas sem liberdade, e se caracteriza por movimentos igualitários e autoritários. A extrema direita não defende nem a liberdade nem a igualdade e se caracteriza por movimentos antiliberais e anti-igualitários.” Esse aprendizado me fez lembrar uma anedota sobre um casal fanático por política. A esposa de esquerda e o marido de direita. Eles perguntaram para o filho o que ele queria ser quando crescesse. O menino respondeu que queria ser presidente da República para distribuir casa e comida para os moradores de rua. – Bem-vindo à esquerda”, brincou a mãe. O pai apoiou a resposta e completou: – Ótima ideia filho, mas só que você não precisa esperar para ser presidente e fazer isso. Basta você podar o jardim, varrer o quintal que eu te pago mil reais para que você possa doá-los aos moradores de rua. O garoto pensativo e retrucou: – “Então, por que o senhor mesmo não chama os moradores de rua, pede a eles para fazerem o trabalho e paga direto para eles?” “Bem-vindo à direita” – brincou o pai. A política é mesmo bipolar e não existe um lado predominantemente melhor do que o outro, porque o mais importante não é quem é certo, mas sim o que é certo. *Palestrante, consultor e fundador do Blog do Maluco