Preservando a fertilidade em portadores de câncer

22/04/2016 às 19:50.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:04

Delzio Salgado Bicalho (*)

As estatísticas mundiais revelam que em 2012, ano do último estudo global, o câncer de colo uterino (ou cervical) foi o terceiro mais comum entre as mulheres e a quarta causa de morte, sendo responsável por 9% (529.800) dos novos casos de cânceres femininos e 8% (275.100) das mortes, representando uma taxa de mortalidade ajustada para a população mundial de 4,72 óbitos para cada 100 mil mulheres. Em 2016, a estimativa é que ocorram 15.590 novos casos de câncer de colo uterino no Brasil, que representa 15,3 casos para cada 100 mil mulheres. Por ser uma enfermidade que pode vir a causar infertilidade, os ginecologistas oncológicos devem avaliar qual será o melhor tratamento que não prejudique o futuro reprodutivo da paciente, conservando o corpo uterino, trompas e os ovários, sem que isso interfira no resultado oncológi-co do tratamento.

O câncer de colo uterino (ou cervical) é o terceiro tumor mais frequente na população feminina brasileira, atrás do câncer de mama e do colorretal, sendo a quarta causa de morte entre as mulheres. A doença é causada pela infecção persistente do Papilomavírus Humano (HPV) de transmissão sexual e eficientemente evitável pelo exame ginecológico periódico com coleta de material para a colpocitologia ou exame de Papanicolau e colposcopia em determinados casos.

A faixa etária mais comum para o diagnóstico do câncer do colo uterino era de 45 a 55 anos, ou seja, ocorria quando a paciente já estava com sua prole definida. Atualmente esse diagnóstico vem sendo realizado com cada vez mais frequência em pacientes mais jovens. Em 46% das mulheres, ele é feito em idade inferior a 45 anos, faixa etária em que elas podem não ter ainda sua prole definida, tornando-as candidatas à preservação da fertilidade.

Atualmente há uma tendência em substituir as técnicas radicais em favor de procedimentos mais conservadores visando preservar a fertilidade. O tratamento do câncer, de uma maneira geral, tem se tornado cada dia menos agressivo, sem deixar de ser radical e eficaz. É o que aconteceu com a mastectomia no câncer de mama e está acontecendo também com o tratamento do câncer do colo uterino.

A traquelectomia radical é a retirada apenas do colo com os tecidos adjacentes em vez de todo o útero. É uma nova abordagem a ser usada em pacientes portadoras de câncer de colo uterino em estágios iniciais e tem como objetivo preservar a fertilidade. Ela pode ser realizada via vaginal, laparotômica, laparoscópi-ca ou robótica. O procedimento é precedido pela linfadenectomia pélvica lapa-roscópica. Cirurgias ultraconservadoras como linfadenectomia seguida por conização, transposição dos ovários para posterior estímulo e coleta de oócitos são opções aceitas atualmente. É grande a contribuição dos laboratórios de reprodução humana para diversos procedimentos como criopreser-vação de oócitos, embriões e até tecido ovariano.

Devido aos avanços na medicina já é possível que mulheres portadoras de câncer de colo de útero possam engravidar após o tratamento ou retirar os óvulos para uma futura fertilização. Cabe ao ginecologista oncológico orientar adequadamente a paciente quanto ao diagnóstico, opções de tratamento, prognóstico relacionado ao tumor, possibilidade de gestação após o método escolhido e complicações relacionadas à futura gravidez.

(*) Ginecologista oncológico, diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig)

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