Que legado é esse?

03/06/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:43

Paulo Paiva*

As primeiras estimativas do PIB neste ano, conforme dados do IBGE, mostram que a recessão continua profunda. Análises podem ser feitas levando em consideração três horizontes diferentes de tempo: 1) comparando o primeiro trimestre de 2016 com o trimestre imediatamente anterior; 2) comparando-o com o mesmo trimestre do ano anterior; e 3) comparando o acumulado em quatro trimestres com o resultado dos quatro trimestres anteriores.

Na comparação do primeiro trimestre deste ano com o último trimestre do ano passado, houve uma queda de 0,3% no PIB. Já são cinco trimestres consecutivos de queda. Contudo, se considerarmos os últimos oito trimestres, só não houve queda no quarto trimestre de 2014 (ligeiro ganho de 0,23%). Vale dizer, a economia vem encolhendo ao longo dos dois últimos anos.

Comparando o nível de atividade no primeiro trimestre deste ano com o do primeiro trimestre do ano passado, a contração chegou a 5,4%, oitava queda seguida. Novamente, dois anos de retração da economia, sem interrupções.

Cabe lembrar que a última vez que isso aconteceu no Brasil foi há 85 anos, na depressão de 1930 e 1931, quando o PIB caiu 2,1% e 3,3%, respectivamente.

Na comparação dos dados anualizados, isto é, o acumulado em quatro trimestres com os quatro trimestres imediatamente anteriores, a queda do PIB foi de 4,7%. Este foi o maior tombo nos últimos 20 anos. 

Sob a ótica da oferta, nos últimos doze meses, a indústria continuou sendo o setor mais afetado pela recessão. A queda foi de 10,5% na indústria de transformação e de 7,1% na construção. No conjunto de atividades de serviços, o baque maior foi no comércio (-10%) e na agropecuária houve retração de 1,0%. 

Na ótica da demanda, os investimentos despencaram 15,9%, o consumo das famílias encolheu 5,2%, e o consumo do governo caiu 1,3%. Redução nos investimentos e no consumo significa aumento do desemprego, que já ultrapassa 11% da população economicamente ativa. O desempenho recente da economia tem empurrado o Brasil para trás. 

A produção industrial em março deste ano voltou ao nível de dezembro de 2003, a produção de veículos no primeiro trimestre deste ano equipara-se ao do primeiro trimestre de 2003, os investimentos retornaram ao que eram no segundo trimestre de 2009, as vendas do comércio retroagiram aos níveis de dezembro de 2011, o volume de empregados com carteira assinada voltou ao de abril de 2012 e a massa de rendimentos caiu ao seu nível no segundo trimestre de 2013. 

Único indicador positivo é o saldo da balança comercial que vem crescendo graças à elevada queda das importações (18,3%) e ao aumento das exportações (8,3%) nos últimos 12 meses.

Não restam dúvidas, a causa da recessão brasileira não está na crise internacional, mas sim na desastrosa gestão da economia. Esse é o cruel legado deixado pelo governo Dilma.

*Professor associado da Fundação Dom Cabral. Foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

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