Reúso é a palavra de ordem

18/04/2016 às 17:31.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:00

Ruddi de Souza*

Existem várias frases admiráveis na biografia do pensador e escritor Peter Drucker, mas uma em especial eu admiro mais: “O planejamento de longo prazo não lida com decisões futuras, mas com o futuro de decisões presentes”. Nada mais atual e presente para descrever a forma como o país – em especial alguns estados – lida com a questão da escassez dos recursos hídricos. São Paulo, por exemplo, o Estado mais rico e populoso da nação, viveu recentemente o ápice de uma de suas piores secas da história, o que causou sérios transtornos no sistema de abastecimento.

Não escrevo para apontar problemas e causas no passado, mas sim para projetar o futuro e indicar possíveis caminhos. E infelizmente o futuro será tão desafiador quanto o momento atual se não houver uma mudança radical do ponto de vista de gestão e planejamento de longo prazo.

É necessário criar uma política de Estado que incentive verdadeiramente o reúso de água. As medidas usadas para combater à crise hídrica, em geral, são mais caras, uma vez que a importação de água cada vez mais distante requer gastos de energia devido à água bombeada, além de causar impactos ambientais.

No Brasil, a atividade de reúso ainda não é regulamentada e tampouco há estabelecidos padrões de qualidade para serem seguidos. O que existem são apenas orientações e iniciativas em níveis estaduais e municipais que incentivam.

Não precisamos ir muito longe para encontrarmos exemplos concretos de como uma política séria de reúso pode ajudar a minimizar problemas decorrentes da escassez de água. México e Estados Unidos, por exemplo, são vizinhos de continente e apresentam bons cases para seguir de modelo. Em Los Angeles, por exemplo, o governo incentiva financeiramente a troca de componentes residenciais para o uso racional da água.

Ao redor do mundo é possível encontrar inúmeros exemplos de como países ou estados fizeram o dever de casa com relação ao reaproveitamento da água. O que eles têm em comum? Leis, normais e incentivos reais.

O investimento em reúso torna-se mais necessário ainda quando observamos o volume de perdas, algo em torno de 30% a 40% de toda a água produzida, dependendo da região do país. Trata-se de uma enormidade, principalmente porque as redes de transportes foram construídas há muitos anos e hoje estão deterioradas.

A despeito da falta de legislação, as empresas, sobretudo as grandes indústrias consumidoras de água, têm de fazer sua parte. Além da preocupação ambiental, há uma vantagem econômica embutida neste processo.

Ao reaproveitar a água já captada, transformando-a em matéria prima para outros processos antes de descartá-la na natureza, pode-se obter uma boa economia, de acordo com estudos do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra), vinculado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Tecnologias existem. O que falta é pensar responsavelmente no longo prazo.

* Ruddi de Souza é presidente do Conselho de Saneamento Ambiental da Abimaq e diretor geral da Veolia Water.

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