Remédio para a crise? Cuidar da saúde

29/06/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:05

José Kezen*

Hoje é a economia e a política que pautam a mídia, o dia a dia e as conversas dos brasileiros. Impossível ficar alheio aos efeitos da crise econômica no nosso cotidiano e ao ritmo acelerado das mudanças na política.

Também difícil não constatar que as turbulências que o Brasil enfrenta têm consequências que vão além das finanças e do ânimo da população. Os impactos mais perversos podem recair na qualidade da nossa saúde.

Foi assim em países com atividade econômica similar à nossa. E é o que já estamos vivenciando em consultórios e ambulatórios. Cresce o número de pacientes com sintomas de ansiedade (insônia, irritabilidade e cansaço), queixas comuns que, invariavelmente, estão relacionadas ou foram provocadas, mesmo que indiretamente, pelo ritmo da economia.

Há décadas, pesquisadores em todo o mundo se dedicam a dimensionar como os momentos de aperto econômico impactam na saúde da população e atuam como fator de risco para várias enfermidades, como as doenças cardiovasculares. 

Mesmo que não haja nos estudos uniformidade metodológica e de resultados, existe consenso em alguns pontos. Primeiro: há, sim, reflexos negativos sobre a saúde. Segundo, quanto mais desenvolvido o país, menor o impacto. E, por fim, os menos favorecidos são os mais afetados.

No Brasil, dois indicadores nos servem de alerta. A IMS Health, consultoria que audita o mercado farmacêutico, identificou um acréscimo de 12,6% nas vendas de antidepressivos e de estabilizantes de humor entre março de 2015 e fevereiro deste ano. Para se ter ideia, no auge da crise financeira em Portugal, o consumo desses tipos de medicamento cresceu 7,6%. 

Outro efeito por aqui foi a queda do número de beneficiários de planos de saúde, resultado direto do aumento do desemprego. A consequência imediata da redução dos usuários de assistência privada é a sobrecarga ainda maior no nosso já sofrido SUS. Sem dúvida, esta crise trará significativa redução de acesso à saúde pela população.

Ao contrário das turbulências econômicas, que monopolizam atenções em manchetes e redes sociais, os efeitos que a atual crise pode trazer para a saúde são silenciosos. Por vezes, não são percebidos pelos próprios pacientes, nem pelas autoridades.

Ensina a história que economia e saúde sempre tiveram ligação muito próxima. A relação ocorre não só pela insuficiência de recursos destinados à saúde pública e pelos impactos de epidemias no ritmo das atividades do país, mas também pela necessidade de uma população saudável para sustentar qualquer política de desenvolvimento. 

Então, rever hábitos alimentares, abandonar o sedentarismo e adotar a prevenção como regra são, sim, medidas de primeira hora para qualquer país voltar a crescer. 

(*) Cardiologista da Casa de Saúde São José do Rio de Janeiro

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por