Separar o joio do trigo

24/04/2017 às 18:37.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:16

Aristóteles Drummond*

Anistiar crimes eleitorais, assim como atos de vandalismo em greves e manifestações, tem sido forte incentivo para a impunidade e o desrespeito à lei. O Senado já tem um vergonhoso precedente por ter anistiado o então senador Humberto Lucena, dias depois de uma condenação no TSE.

Todos sabem que recursos de caixa dois não envolvem necessariamente casos de corrupção. Mas é preciso separar o joio do trigo. Um político de reputação ilibada, de ficha limpa, sem mandar em entidade pública direta ou indiretamente via prepostos, do bloco de oposição, não pode ser comparado a quem manipulava poder para receber benesses.

Caso o Congresso queira promover uma ação palatável para a opinião pública, deveria pelo menos considerar, para fins de anistia de crime eleitoral, os repasses feitos até 120 dias das eleições. Mas o que se tem visto é atribuir a contribuições eleitorais dinheiro para enriquecimento ilícito, com base no uso e no abuso do poder. 

Uma coisa é uma empresa contribuir por fora a um político, até por prudência. Outra é que esta contribuição esteja vinculada de alguma maneira a contratos com órgãos da administração direta ou indireta da União, estados ou municípios. A estes não pode haver anistia. O que se percebe é um movimento para jogar fora todo o esforço pela moralidade, deixando uma meia dúzia com condenações e uma grande maioria na impunidade. 

A Justiça considera o ambiente, o perfil criminoso e não deve se orientar apenas por provas completas. Por isso, existem os testemunhos e uma avaliação pela Receita Federal dos sinais exteriores de riqueza dos citados. Tem gente que não consegue explicar nem suas contas de luz, gás ou telefone. 

Encerrar a operação limpeza com os presos e os já condenados provocaria uma frustração nacional. E o tema já está na alma popular enraizada de tal maneira que os passos devem atender a razoabilidade, não a cumplicidade. Velocidade nas decisões, na divulgação de depoimentos, para preservar tudo o que até aqui foi conquistado. É disso que se precisa. 

(*) Jornalista e escritor

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