Paulo Paiva*
São reais e visíveis as relações entre economia e política, mas são também complexas, não se podendo descrevê-las em simples linhas de causalidades diretas. Seus resultados aparecem no grau de confiança que a população e o mercado depositam tanto em uma como em outra.
Se, de um lado, uma recessão pode desencadear crises políticas, um bom desempenho econômico pode torná-las irrelevantes; de outro lado, conflitos políticos podem afetar negativamente a economia.
Essas relações se tornam mais difusas quando crises de outra natureza, como ética, por exemplo, atingem ambas, a política e a economia. Esse é o caso do Brasil com política e economia entrelaçadas e afogadas em profunda crise ética.
A partir de 2011, em razão da queda dos preços de commodities, a economia brasileira entrou em processo de desaceleração, como muitas outras, mundo afora. Contudo, sua gestão, submetida a uma visão equivocada do governo, provocou profunda recessão, cujos efeitos sobre a população foram terríveis.
A renda per capita despencou 16%, de 2013 a 2016, e o desemprego explodiu, dobrando de 2014 a 2016. A crise na economia erodiu a confiança no governo Dilma.
O impeachment da presidente prosperou em um ambiente de recessão e aceleração inflacionária. Sem apoio da população e do Congresso, ela foi afastada, após cumprir o calvário do processo legal de julgamento.
O governo Temer começa com a economia dando sinais positivos de recuperação. Sinais que já vinham aparecendo desde o ano passado e que, agora, são robustecidos pela incipiente retomada da confiança.
Se no período Dilma, a economia esteve na base da corrosão do equilíbrio político, desta feita o risco é o inverso. O confuso resultado do impeachment no Senado, afastando a presidente, mas mantendo seus direitos políticos, foi a senha para estimular manifestações contrárias a um governo com baixa aceitação popular e sobre o qual pairam ameaças da operação Lava Jato e do processo de cassação que corre no TSE.
Será que virão por aí tempos de turbulências políticas abortando a recuperação da economia?
(*) Professor da Fundação Dom Cabral, ex-ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC