Todo poder corrompe

15/06/2018 às 18:27.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:38

Aristoteles Atheniense*


O ex-governador Sérgio Cabral, em recente depoimento prestado perante o juiz Marcelo Bretas, na 7ª Vara Federal Criminal, no Rio, reconheceu haver se perdido na promiscuidade mantida com empresários na arrecadação de recursos para as campanhas eleitorais de que participou.

Após afirmar que usou do dinheiro recebido de seus financiadores em proveito pessoal, acrescentou: “Eu não soube me conter diante de tanto poder e tanta força política”. Em seu relato, declarou que arrecadara R$ 500 milhões para a sua eleição e de seus aliados, tendo se valido de R$ 20 milhões no custeio de gastos próprios.

Na sequência de sua manifestação, concluiu: “De uns dias para cá, venho refletindo sobre os erros que cometi. Tenho que ter um sentido histórico da minha vida, diante da minha família, diante do que está lá em cima”.
O juízo emitido por Sérgio Cabral, em relação ao seu comportamento na vida pública, faz lembrar Lord Acton (John Emerich Edward Dalberg-Acton - 1834-1902), historiador britânico, considerado o homem mais culto da era vitoriana, famoso pela frase: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

Segundo Acton, “a limitação é essencial à autoridade”, pois, “um governo só é legítimo se é efetivamente limitado”. Quanto à liberdade, “não é o poder de fazer o que queremos, mas sim o direito de sermos capazes de fazer o que devemos”.

A seu ver, o fato de que todo poder absoluto é irremediavelmente corruptor ficara demonstrado, no início do século XX, tanto na versão nazista, como na stalinista. A ascensão a funções mais elevadas do poder político desloca o sujeito da vida privada para a vida pública, que o torna diferente dos demais cidadãos.

Sérgio Cabral, após deixar o Senado (2003-2006), tornando-se governador do Rio de Janeiro (2007-2014), cercou-se de privilégios e imunidades, assumindo uma posição superior, passando a conviver com aduladores e interesseiros que contribuíram para a sua prisão, sendo condenado a mais de cem anos.

A sua fragilidade provocou uma distorção personalizante do político, apropriando-se de poderes que eram inerentes ao cargo que exercia – e não à sua pessoa.

Este foi seu erro capital.

*Advogado, conselheiro Nato da OAB e diretor do IAB e do IAMG.
 

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