Todos são iguais quando convém

25/06/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:02

Aristóteles Atheniense*

O episódio que importou na prisão do ex-ministro Paulo Bernardo e outros políticos ligados ao PT e PMDB, proporcionou um fato inusitado, conforme Eliane Cantanhêde assinalou em sua coluna no “Estadão” de ontem.

Desde que instaurado no Senado Federal o impeachment de Dilma Rousseff, a senadora Gleisi Hoffmann assumiu posição de destaque nos desafios dirigidos ao relator Antonio Anastasia, em companhia de outros aliados petistas que não medem palavras nas provocações diuturnas.

Não foram raras as vezes em que o grupo recebeu dos senadores Ronaldo Caiado e Magno Malta resposta contundente às suas diatribes, incompatíveis com a seriedade que deveria haver na Câmara Alta, em um processo de tamanha e grave repercussão.

A arrogância e ironia da senadora ultrapassou os limites da tolerância, somente não provocando maiores tumultos devido à lhaneza de trato do parlamentar mineiro.

O prestígio da senadora Hoffmann caiu de 2,2 milhões, quando concorreu ao Senado, para 881 mil na sua frustrada campanha em 2014 ao governo do Paraná. A esta altura, ela e o marido estão denunciados ao STF, sob a acusação de irregularidades apuradas no âmbito da Polícia Federal e do Ministério Público.

O casal construiu uma parceria política desde 1999, quando Gleisi tornou-se secretária de Estado e Paulo Bernardo secretário da Fazenda, na gestão de Zeca do PT no Mato Grosso do Sul. Em 2001 e 2002, ambos foram secretários municipais em Londrina e, em 2003, Gleisi assumiu a diretoria financeira da Itaipu, enquanto o marido passou a ser o articulador de suas pretensões eleitorais.

As providências adotadas pela Polícia Federal nada têm de inédito, diante do que ocorreu com o senador Delcídio do Amaral, cujo mandato foi cassado pela unanimidade de seus pares, e das denúncias feitas por Sérgio Machado envolvendo Calheiros, Sarney e Jucá.

Agora, o mesmo Senado Federal, que não hesitou em cassar Delcídio, formula denúncia contra o juiz Paulo Bueno de Azevedo, que determinou busca no apartamento e na residência do casal, valendo-se da Advocacia-Geral daquela Casa, sustentando a nulidade das medidas judiciais determinadas.
Segundo o magistrado, o fato de a esposa de Paulo Bernardo ser senadora “não impede as buscas e apreensões”, pois, do contrário “ser casado ou residir com alguma autoridade equivaleria a uma verdadeira imunidade a investigações criminais”.

Curiosamente, os líderes do PT, Lindbergh Farias, e do PSDB, Cássio Cunha Lima, se associaram na defesa da colega. O senador paraibano, que já foi cassado em 2008 pelo TSE, chegou a afirmar: “Por mais que o embate político seja duro, há uma família por trás disso. Há um limite de embate político e de respeito à pessoa humana”.

Ainda na concepção do político tucano, um juiz de primeiro grau não tem competência para comandar apreensão no apartamento de uma senadora da República e a ordem deveria ter vindo do STF.

É estranho que o acontecimento pudesse ter despertado no líder da oposição tamanha condescendência, em face do comportamento de uma parlamentar que não mede as palavras nas acusações feitas, das quais o próprio Cunha Lima já foi alvo como integrante da “tropa de choque”.

Vale acrescentar que na defesa feita ao marido, Gleisi ressaltou: “Não temos conta no exterior”, enfatizando que a operação da PF tinha como objetivo desviar a atenção dos erros do presidente em exercício, Michel Temer, a fim de “garantir” o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

Razão assiste à Eliane Cantanhêde em manifestar a sua estranheza com o fato do PSDB não haver apenas se contido, moderadamente, mas saído em vibrante defesa de Paulo Bernardo e sua esposa, a demonstrar que “todos os políticos caem na mesma vala comum, na percepção cruel e destruidora de que ‘todos são iguais’”.

É o espírito de corporação que os congrega, mesmo em situações indecorosas, diante do risco a que estão expostos os que militam na atividade pública.

A crítica de Cunha Lima, certamente, não contou com o apoio de seus liderados. A não ser que se queira admitir que verdade e mentira se igualam sempre que houver interesse pessoal a ser resguardado. Com isto, o Senado da República se desfigurou, dando a entender que não tardará a se empenhar no desfazimento da Operação “Lava Jato”.

(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB. Diretor do IAB e do Iamg. Presidente da AMLJ

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