Vamos falar em suicídio?

18/09/2018 às 20:34.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:31

Raquel Tinoco*

Setembro é o mês de prevenção ao suicídio, quando é realizado o movimento Setembro Amarelo, criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Recordo que, quando criança, esse era um assunto-tabu, cuja existência mal sabíamos. Percebi a cerimônia com que era tratado e fui advertida sobre o risco da exposição. Recebi em casa a explicação de que o suicídio não deveria ser comentado abertamente, sob pena de ser estimulado em mentes alheias e enfraquecidas. Pude constatar, realmente, a ausência do tema na imprensa, crescendo com a convicção que me fora ensinada.

Hoje sou mãe de dois adolescentes e alguns dos temas que meus filhos trazem da escola fazem brotar em mim reflexões. Os docentes de hoje levam os alunos a pesquisar sobre eutanásia, distanásia ou ortotanásia, além de outros aspectos acerca do término da vida física. 

O suicídio hoje é pauta de saúde pública, já que atinge cerca de 800 mil pessoas ao ano, de acordo com a OMS. Já percebemos na mídia um movimento no sentido de abandonar o que antes parecia negação para uma posição de esclarecimento, discussão, conhecimento e colaboração com quem precisa efetivamente de ajuda. 


Mas qual a finalidade de se quebrar o tabu e falarmos abertamente sobre o suicídio? Não são as reflexões que ordenam as ideias e podem trazer luz à mente? A ideação suicida pode nos parecer furtiva, silenciosa, e geralmente o é. Mas a tristeza sem causa aparente pode ser menos sorrateira e, portanto, aproveitada como indício de um pedido de socorro. Sabemos da situação de extrema fragilidade de quem pretende praticar esse ato extremo e não nos cabe mais ficar indiferentes e imobilizados . A descrença na vida, por exemplo, pode ser combatida com o nosso auxílio, com nossa atenção e carinho diários. 

Ao se instituir o Dia de Prevenção ao Suicídio (10 de setembro), chama-se a atenção para seu componente de doença. Como tal, pode ter tratamento e recuperação. O humanista argentino González Pecotche disse certa vezque “a vida deve chegar a ser compreendida em sua essência, para que os desígnios de sua sublime finalidade possam se cumprir”. Infelizmente, essa essência é desconhecida pela maioria. Daí que se cometa tantos atentados contra o próprio espírito e infira tantos agravos à natureza humana e ao que representa a razão de ser da nossa existência. Que sejamos responsáveis por levar a todos a beleza da vida, como a maior oportunidade de realização humana. Se ouvir o outro faz bem, conscientizar sobre a existência de tratamento também faz.


*Psicóloga, bacharela em direito e estudante de Logosofia
 

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