Vitória de Bolsonaro

01/11/2018 às 22:03.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:34

Antônio Álvares da Silva (*)

Jair Bolsonaro é presidente do Brasil. Sua trajetória política é exemplo evidente de que o homem tem poderes sobre o passado, onde repousam os fatos vividos. Do presente também até certo ponto, pois a tendência do fato de agora é transformar-se em fato depois. Entre presente e passado, a diferença é tênue e se perfaz com um breve espaço de tempo, movediço e invisível, que empurra o dia que vivemos no imenso lago escuro dos dias vividos.

Mas do futuro nada sabemos. Tudo que prevemos pode ser desmanchado com um simples sopro. Apenas em pequena quantidade podemos construir nosso futuro. Mas o que ele vai ser de verdade é um enigma da sorte e do destino, dois falaciosos companheiros do homem em sua viagem pela terra.

Jair Bolsonaro é um exemplo do que acabamos de escrever. No exercício de seus sete mandatos, foi um deputado medíocre e pouco criativo. Era classificado como pertencente ao “baixo clero”, rubrica na qual se abrigam aqueles parlamentares que pouco ou nada produzem e se servem do cargo para prestígio, negócios e oportunidades.

A “Folha de São Paulo” enumerou situações duvidosas em que o presidente se envolveu no passado. É uma longa descrição de fatos que não o recomendam: nepotismo, racismo, funcionário fantasma, ameaça e alguns outros mais. Seu discurso violento e depreciativo causou-lhe naturalmente muitas inimizades. Como pensar que um dia chegaria ao pináculo da carreira cobiçada por todo político? A realidade hoje confirma o imprevisível. não há sentença transitada em julgado. Sua inocência é presumida e estes fatos agora pertencem ao passado e só poderão ser cogitados depois do término do mandato que agora vai começar.

A experiência mostra, na história política dos povos, um fato frequente, que acontece nos países grandes e pequenos. Quando o povo está descrente de governos e políticos, sempre aparece um salvador da pátria, prometendo a cura dos problemas generalizados, que causam sofrimento às pessoas e desilusão aos eleitores. Comprometem-se a fazer mundos e fundos, reformas de toda espécie e soluções adequadas e pertinentes para todas as dificuldades. A este fenômeno se dá o nome de populismo, que consiste em enganar o cidadão com promessas irrealizáveis.

Bolsonaro entrou nesta jogada e, à semelhança de Fernando Collor, conseguiu despertar no povo a esperança da salvação, sempre bem vinda e querida aos que sofrem. O resultado aí está. Bateu Fernando Haddad, contrariou uma parcela elitista de eleitores que não o aceitava e hoje é um grande e indiscutível vencedor.

Sua vitória se deu pelos caminhos democráticos e corretos. Não há o que reclamar ou criticar. O povo assim quis e assim será. É preciso agora que trabalhemos todos, cada qual a seu modo, para que a escolha não se perca. Temos que trabalhar para que Bolsonaro faça um bom governo. E seu primeiro discurso foi sereno e correto. Propôs reconciliação e união. Pediu paz e cooperação. Está implícita na fala a tentativa de reconstrução de sua imagem pois, como já foi dito, a campanha é feita em versos, mas a administração é realizada em prosa.

Ao povo cabe agora aceitar o pedido generoso. Não podemos perder mais tempo com impeachment e outras miudezas políticas. Oposição que só enxerga erros e falhas acaba arruinando a si própria e ao governos. Esta é agora nossa tarefa, pois quem paga em primeiro lugar pelos erros dos governantes somos nós mesmos. E não haveremos de querer mais sofrimento.

*Professor titular da Faculdade de Direito da UFMG
 

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