No céu não tem acostamento!

07/12/2021 às 20:48.
Atualizado em 14/12/2021 às 00:36

Entre 1976 e 2002 existiu na Bahia uma empresa aérea chamada Nordeste Linhas Aéreas, possuía forte operação em Minas Gerais, com uma relevante base em Belo Horizonte, servindo a Ipatinga, Governador Valadares, Teófilo Otoni, Montes Claros, Juiz de Fora e em determinados momentos outras cidades do estado. Em seu primeiro mês de operação, pasmem, sofreu um acidente com a perda de uma aeronave em Petrolina, PE. A primeira ação foi alocar no seu hangar na capital baiana a frase: No céu não tem acostamento!

Óbvia, a frase buscava reforçar no setor de manutenção da Nordeste a importância da observância aos procedimentos, boas práticas e o Compliance, o termo em voga, sequer existia a época. De 1976 para 2021, muita coisa mudou na aviação, sobretudo a comercial (a que transporte passageiros de forma regular: Azul, GOL, Itapemirim, Latam, Voepass). Se em 1976 mal havia formação para mecânicos e era um Departamento de Aviação Civil (DAC) da Aeronáutica, em 2021 existem escolas, faculdades voltadas para a formação dos técnicos de manutenção de aeronaves e a parte de regulação da ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil é de alto nível, garantindo a sua tranquilidade, enquanto passageiro ao embarcar em voos comerciais no Brasil.

Não iremos abordar aqui as possíveis questões acerca da chamada aviação geral, aquela dos aviões privados ou do universo do táxi aéreo, pois não é o nosso escopo. Sabemos e afirmarmos que a mesma possui regulações específicas da ANAC, bem como fiscalização, no entanto, a aviação comercial está muito mais sobre os holofotes e, portanto, visível ao público. A aviação geral infelizmente ganha visibilidade em casos como o recente acidente do King Air que transportava a cantora Marília Mendonça, todos se preocupam pela ausência da “bola laranja” no fio de alta tensão, mas poucos questionam o porquê de a aeronave estar voando àquela altura. A aeronave estava enfrentando problemas técnicos e por isso voava mais baixo?

É necessário entender que quando falamos de segurança de voo, um acidente ou incidente nunca tem uma causa só, é a soma de fatores que compõe a sequência cujo desfecho é o acidente ou incidente. Enquanto a opinião pública busca sempre o culpado para solucionar questões, o universo da segurança de voo busca sempre a causa, proporcionando assim a mitigação dos fatores que causaram o acidente ou incidente. Afinal, por mais óbvia que seja a frase daquele hangar da Nordeste em Salvador (demolido, hoje é o novo terminal de passageiros), todo aviador, todo mecânico, toda pessoa envolvida na operação aérea sabe que no céu não tem acostamento e por isso aplicam todo o profissionalismo, seriedade e Compliance aos regulamentos e manuais.

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