O Clube Atlético Mineiro conseguirá viabilizar a construção do novo estádio, na Região Oeste de Belo Horizonte, graças à crise no varejo. É isso mesmo. Em documento enviado aos conselheiros, com um panorama sobre as negociações financeiras para concretizar o sonho atleticano, o presidente Daniel Nepomuceno conta que as negociações com a Multiplan, dona do shopping Diamond Mall, só foram possíveis porque o comércio varejista está em crise.
Conforme o presidente, a consultoria do Banco Brasil Plural avaliou o shopping Diamond Mall em R$ 785 milhões. Mas uma parte do empreendimento está alienado. Então, o valor real hoje chega a R$ 494 milhões. O empreendimento foi construído pela Multiplan em terreno do Atlético. Existe contrato de arrendamento.
O Atlético ofertou o ativo a 50 fundos. Mas recebeu apenas uma proposta de R$ 220 milhões do fundo Vinci, por 100% do shopping.
O pouco interesse por parte do empresariado ocorre em função da crise financeira, com consequente queda no varejo. Para se ter uma ideia, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as vendas do comércio varejista caíram 7% em janeiro deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Em fevereiro e março, houve recuo também. Associa-se a isso o crescimento das vendas pela internet, o e-commerce. Tais fatores impactaram no desempenho dos shoppings país afora.
Sabendo da onda que avassala o comércio varejista, o Atlético recusou a proposta do Vinci e procurou a Multiplan para negociar a venda do Diamond. “O varejo está vivendo uma revolução. As vendas pela internet cada vez mais fazem cair o movimento dos shopping centers ao redor de todo o mundo. É nesse cenário que o Atlético conseguiu arrancar da Multiplan a proposta de R$ 250 milhões por 50,1% do shopping, continuando ela, a Multiplan, com a gestão (como foi desde o começo) e dando ao Atlético a garantia do ‘poder de veto’”, informou Nepomuceno no documento, que veio a público no sábado, mas cujos detalhes econômicos passaram desapercebidos. Detalhe: a Multiplan pagará, proporcionalmente, mais que o valor original de avaliação (R$ 494 milhões) e o Atlético não vai perder o empreendimento, já que fica com 49,9% dele.
Com o dinheiro da venda do shopping, somados aos recursos de empréstimo do BMG e negociações com cadeiras cativas e o nome do estádio, os atleticanos podem ter um novo estádio sem desembolso imediato de caixa.
<CS9.1>O cenário econômico não deve melhorar nos próximos meses. A economia deve dar sinais mais claros de retomada apenas no fim do ano que vem. Mesmo assim, em ritmo lento, tendo em vista que a projeção do governo federal é de déficit até 2.020.
Como diz o ditado popular: “Mais vale um pássaro na mão que dois voando”. E assim, o Galo, com a esperteza de uma raposa, usou da crise econômica para capitalizar o tão sonhado estádio.