Usiminas: uma disputa intercontinental

10/07/2017 às 15:24.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:28

Para entender a disputa que ronda o comando da Usiminas é preciso entender os japoneses e os ítalo-argentinos. Depois de ter a oportunidade de conhecer as duas versões dos fatos (Ternium/Tchint e Nippon) colhi algumas impressões que compartilho com os leitores. 

Em 2011, a Nippon Steel convidou a Ternium/Tchint para entrar na Companhia. Os dois grupos tinham relação de cordialidade e parceria comercial há cerca de 60 anos. Nunca tiveram atritos consideráveis. A relação se baseava na confiança mútua. A Ternium, então, adquiriu as ações da Votorantim e da Camargo Corrêa. Ao longo dos anos, também adquiriu ações da Previ. Hoje, a Ternium/Tchint detém 39,57% das ações ordinárias e 23,06% do capital total. Já a Nippon controla 32,41% das ações ordinárias e 18,48% do capital total da Usiminas. 

O erro dos dois conglomerados, lá em 2011, repercute até hoje. Não ficou claro (escrito no papel) como seria feito o controle da Usiminas. A Ternium alega que o acordado foi que o grupo ítalo-argentino indicaria os CEO’s (executivos/presidentes). 

Mas a Nippon entendeu de forma contrária. O resultado é que não houve nada explicitado em contrato. Daí, começou a disputa pelo controle da Usiminas. 

Acredito que o único CEO que agradou a japoneses e italianos foi Rinaldo Soares, que presidiu a Companhia quando começaram as conversas entre Nippon e Ternium/Tchint.

Mas ele deixou a presidência antes da consolidação da venda. Daí, surgiram outros CEO’s, indicados pelos japoneses, na maioria. Neste meio tempo, a crise internacional, que afetou os preços na siderurgia, agravou ainda mais a situação da Usiminas. 

Em 2009, a Usiminas planejava investimentos de US$ 14 bilhões nos cinco anos subsequentes. Mas a demanda já mostrava desaceleração. A partir de 2008, foram feitos investimentos efetivos de R$ 14 bilhões, sendo R$ 7 bilhões em financiamentos. Com um plano ousado de expansão, a Companhia ficou com um pepino em mãos: pagar a dívida. 
Isso tudo sem consenso entre os acionistas! Então, em 2016 deu-se a renegociação de R$ 6,3 bilhões com bancos credores. Na época, o presidente Sérgio Leite, indicado dos italianos, encontrou dificuldades até em ser recebido pelo banco japonês JBIC. Mas foi rolada a dívida. Neste ano, a empresa tem a difícil tarefa de mais uma rodada de negociações com o mesmo JBIC. Como Leite é o condutor das negociações...

Os japoneses querem compartilhar o poder. Alternância seria de dois em dois anos. O italianos desejam uma cláusula no contrato que force a venda por uma das partes, caso o CEO da Companhia não dê resultados. Nenhum dos lados quer ceder. São formas de administração extremamente diferentes. Por isso, acredito que a opção dos japoneses não surtiria efeito. O que se depreende da disputa é que ela está longe do fim. O que se espera é que ela fique fora da Usiminas, essencial para o crescimento do setor e geração de emprego e renda aos mineiros. 

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