Os caminhos da produção artística de vanguarda II

29/04/2016 às 17:55.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:12

Recentemente, Ferreira Gullar chamou para si a responsabilidade de ressaltar certo desarranjo que vive a produção artística. Tendo como mote, porém, a baixa na crítica desta produção desde que caímos no vácuo da chamada arte contemporânea. 

É bom lembrar que este filo se deu a partir do rompimento com os moldes clássicos que traziam à tela a representatividade do que se vê: a natureza e o ser humano. Tudo isso a partir do cubismo, que tudo transformou.

É quando o artista (até então das artes plásticas, esta que hoje se funde à inúmeras outras expressões artísticas) se vê livre diante da tela em branco pela primeira vez. Ele rompe com a obrigatoriedade de criar ao representar, e inicia o processo de partir da tela para inventar o quadro. 

A crítica se vê em baixa justamente por não identificar o que resenhar. Desconhece os caminhos desta produção que se faz com um já chato intuito de impactar, sem passar por processos criativos que fazem da arte ser arte desde sua criação. 

De tão efêmera (parece ser criada para ir de encontro aos salões das bienais, como lembra Gullar em suas críticas) durante seu surgimento, rompe com a perenidade que faz com que a arte extrapole o criador para a eternidade, retrato de épocas, como se imagina na poética da criação – desde Aristóteles se discute esta função.

Não se desvaloriza aqui as intenções artísticas de vanguarda e conceituais. Esta produção revela nomes interessantes, técnicas arrojadas, inserção de discussões sociais e atemporais dentro do contexto de produção. 

Não é incomum encontrar visitantes que se confundem diante da exposição sobre o que é de fato parte dela e o que é algo esquecido ali na fase de montagem das galerias. Há até mesmo performances e expressões que criticam tal situação de modo sarcástico e intertextual, ao aproveitar-se do espaço cedido por este vácuo antes citado para tecer críticas pertinentes.

Quando se transporta um novo ideal artístico de um contexto a outro sem observar como, quando e onde surgiu de modo experimental, corre-se sério risco de cair no “ridículo conceitual”.

Quando surgiu o movimento modernista no Brasil, a imprensa brasileira ansiava pelas transformações. Não obstante, os jornais de todo o país davam impressionante (para os tempos corridos) destaque em caráter noticioso aos movimentos dos modernistas e à resistência dos salões clássicos. Era um momento histórico, de muitas interrogações quanto ao futuro da arte e seus conceitos, que então se rompem, e eles sabiam disso.

Hoje vivemos tempos parecidos. Assistimos ao crescimento deste movimento conceitual e libertário, mas também a um abandono das sinceras intenções da criação artística, e do próprio processo criativo, em face de tamanha liberdade e vontade de impactar. Acredito que o impacto maior que uma obra de arte pode ter é causar algo, mesmo que a intenção seja causar a antipatia ou apatia. 

Plantar a dúvida de que se trata de apenas um cavalete esquecido, uma luva caída, ou de obra exposta não me parece uma verdadeira evolução de propósitos contemporâneos.

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