Os desafios da carreira artística e uma homenagem

02/09/2016 às 19:04.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:40

Muitos atores chegam a brincar: “Quando pequeno, meus pais falavam: ‘Estude, estude!’, e eu entendi estúdio. Deu nisso”. Fernanda Montenegro, em uma entrevista, disse ser sempre assediada por jovens atores que pedem conselhos sobre a profissão, e que sempre responde, com firmeza, o seguinte: “Saia do teatro. Não faça teatro, não pise no palco. Afaste-se”, o conselho pode parecer duro e controverso, mas ela continua: “Aí, se você se afastar, se não fizer teatro, e se sentir triste, isolado, em completa dependência do palco, volte, você é um ator”. Eu, que me arrisco a entrar neste caminho também, costumo dizer a quem também quer tentar: só tente se você realmente tiver certeza de seu talento, certeza mesmo. Porque o caminho, disse certa vez Rita Lee, é rock’n roll, e rock n’roll não é coisa para fracos.

O recurso parco de citar tantas pessoas pode até soar pobre, mas foi intencional. Quem “chega lá” sabe das dificuldades do caminho de se construir uma carreira artística tão bem quanto quem ainda se encontra na fase de, digamos, captação de recursos.

Cada passo dado é uma vitória, e o foco nunca pode ser perdido. Uma carreira artística é feita, sobretudo, de como usar o talento, como apresentar predicados, e não tão somente tê-los. Uma rede ampliada de contatos, uma autoconfiança quase extremada e modéstia quase inexistente são ingredientes obrigatórios daqueles que buscam se vender no mais difícil mercado que existe: o de apostas na subjetividade e no valor desta em diferentes contextos. 

Provar seu valor e provar a genialidade daquele seu projeto – a palavra mais falada por quem busca um lugar ao sol – é uma tarefa árdua, que necessita uma pequena dose de acaso, para estar no lugar certo, na hora certa, com a pessoa certa. Você, por certo, já ouviu isso muitas vezes. No entanto, vou além e digo que o acaso pode até ajudar, mas você constrói a hora, o momento, e escolhe com quem se encontrar. Você faz o momento certo quando está preparado para dar um passo adiante quando a oportunidade surgir. Uma amiga costuma me dizer sempre: “A vida te dá 1% de sorte se você der a ela 99% de suor”. Essa máxima se faz valer ainda mais veemente na busca da carreira artística. Guarde isso.

Uma homenagem
Contar com pessoas que acreditam, que resolvem sonhar o seu sonho, é uma das maiores dádivas que um artista pode receber. Além da satisfação pessoal de perceber que o que você tem a oferecer pode, sim, agradar a outros, a muitos, ao público, é um alento durante a jornada que preenche aquele vazio da incerteza, que sempre planta a dúvida: será que estou no caminho certo?

Essas pessoas são aquelas que devemos conquistar, apresentar, seduzir pela arte, fazê-las acreditar que o que você tem a dizer é o que outros têm a ouvir, ou que querem ouvir. Essa semana, o Brasil perdeu uma das pessoas que mais sabia ouvir, abraçar, ajudar, sonhar os sonhos dos outros. Darcy Burger, que inclusive gravou e dirigiu o DVD ainda inédito de Vander Lee, era diretor da B2 Filmes, no Rio de Janeiro. Não precisava se deixar seduzir para ouvir ninguém, acolhia a todos, sempre em busca do novo, dos novos. Suas conquistas vão além do que ele tinha no currículo. Sua maior conquista é o legado de profissionais e projetos no audiovisual brasileiro ajudados e guiados por ele. Dadá, como era chamado por nós, era um anjo daqueles que sonham o sonhos dos outros além dos próprios.

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