A inacreditável burrice do estafe de Neymar

31/07/2018 às 20:13.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:41

Que a publicidade recorre dia sim, outro também, à idiotização, a discursos “edificantes”, “bonzinhos”, banhados de um tipo de politicamente correto, de um falso humanismo, não é novidade para ninguém. Marcas de cerveja, por exemplo, são campeãs no quesito “tratemos adultos como eternos adolescentes bobos”. Já as margarinas seguem quase insuperáveis na arte de fabricar um otimismo tão falso quanto enfadonho. O futebol, por sua vez, parece não conseguir evitar a evocação de um culto costumeiramente artificial à “alegria”. Comum também é a associação do esporte ao sentimentalismo barato e à autoajuda de botequim – Tite e Itaú que o digam. Num rápido parênteses, indico David Foster Wallace e Daniel Galera para ótimas reflexões sobre propagandas.

Tudo que Neymar menos precisava depois de ter virado piada mundial, claramente, era de mais aparições que soassem “fakes”, “construídas”. Silêncio, simplicidade, argumento – talvez dados, informações –, espontaneidade, nível intelectual de manifestações pontuais: eis alguns dos caminhos mais interessantes. Quando me refiro à inteligência, óbvio, não me atenho à erudição, à academia; não esqueço e deixo de dar desconto pela falta de acesso aos estudos; não cobro que o jogador explique o “Tractatus” de Wittgenstein. Tampouco aludo somente à clarividência do atleta, em si. Que num cenário no qual há staff, “gestão de carreira”, “especialistas em comunicação, compreensão das massas, gerenciamento de crises, RP, redes sociais”, ninguém, ao menos um dos “gurus” deste “esquadrão”, não tenha atinado para o evidente tiro pela culatra que seria o anúncio feito, é abismal. Até se a preocupação for estritamente financeira, antes da materialização do desastre anunciado, já dava para cravar: para a “marca” Neymar, inclusive considerando os infinitos intangíveis que gravitam em torno de um nome destes, no mundo maluco do marketing em que vivemos, a conta não fecharia; um milhão nada representaria perto das consequências pecuniárias da mancha iminente.

Justamente pelas contundentes feridas à imagem do nosso “menino” na Copa, a ESPN Brasil promoveu um pertinente “Bola da Vez” com Mário Rosa, “consultor de crises” que, em seu currículo “de respeito”, exibe, entre outros feitos, o trabalho realizado com Ricardo Teixeira – fora contratado para limpar a barra do cartola perante a opinião pública. Durante os 90 minutos de programa tentei espremer uma demonstração de expertise, de conhecimento de causa; uma boa sacada; não consegui. A falta de conteúdo do suposto perito revelou-se profunda e irritantemente ululante. Se o intento dele era esconder o jogo, que sucesso! Notando a quantidade de engodos, a enganação, a pouca ciência que permeiam, em grande medida – sob o verniz de que ali estão guardiões de privilegiados segredos –, todo um novo campo de marketing, de cuidado com a imagem, talvez começamos a entender como Neymar embarcou numa barca tão cristalinamente furada... 

Se lembrarmos que “Neymar pai”, com a notória sofisticação que lhe é peculiar, é a figura central do time que cuida de todo o extracampo do seu rebento, encontramos outra pista no sentido assinalado. Ainda este ano, antes da Copa, num entrevero público que o craque teve com Casagrande, sua assessoria já desfilara total falta de tino para ler o que “pegaria bem” diante do povo: respondendo a críticas do comentarista – com as quais nem concordei inteiramente –, algum gênio do seu arsenal de asseclas escreveu no “Insta” do próprio “garoto” – não me digam que foi ele mesmo... – um texto completamente inapropriado, que ao invés de referir-se minimamente ao mérito da questão resolveu agredir – sem nenhuma fineza, e exalando preconceito – o interlocutor. Falava-se cruelmente do passado de Casagrande com drogas; mencionaram que o atacante não tinha sido bom jogador – o que nem é verdade, nem tinha a ver com o debate. Enfim... Seria pior se ele não tivesse staff?

  

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