Fazendo o 'mais difícil'

13/11/2018 às 21:23.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:49

Um tanto curioso, emblemático, o fato de Adilson Batista e Aguirre terem sido demitidos no mesmo fim de semana. Ambos recebem a alcunha de "Professor Pardal". Tenho sérias restrições à forma como esta expressão costuma ser utilizada no futebol. Normalmente, embutido está certo espírito anti-intelectual. Aquele culto ao simplório ainda majoritário no esporte bretão tupiniquim. Há sim defeitos compartilhados pelos dois novos desempregados ali citados. Mas não os definiria com a pecha mencionada.

Em primeiro lugar, é preciso dizer que não sou exatamente fã destes dois treinadores simplesmente porque não vejo, normalmente, em seus times, consistência, regularidade, bom futebol – diferente de "jogo bonito"; não é estética que estou cobrando aqui. Na modalidade mais aleatória existente, nenhum dos dois apresentou, ao longo da carreira, boa dose de certeza com relação à capacidade de interferir positivamente em seus esquadrões. Mesmo quando começaram bem, em termos de resultados, em seus últimos empregos, não convenciam. Tudo estava no fio da navalha demais. A sorte, o acaso pareciam jogar a favor. Numa imprensa e num público essencialmente "resultadistas", contudo, esta fase foi só de elogios...

Adílson muitas vezes consegue o mais difícil: enxergar problemas cujo diagnóstico não salta aos olhos mais desligados/destreinados. O lateral está tomando bola nas costas; a dobra nas pontas do adversário é perigosa, pode tranquilamente proporcionar superioridade numérica... Para solucionar estas dificuldades, todavia, passa a buscar expedientes que, no fundo, em seu custo-benefício, não valem a pena. Tiram a fluência da equipe. Exemplo dos tempos de Cruzeiro: o lateral-direito estava sofrendo; o meio-campo funcionava com qualidade; para resolver sua dor de cabeça, tirava Marquinhos Paraná do centro para dar segurança à lateral; com sucesso ou não nesta tentativa específica, ainda que a beirada ficasse mais consistente, a perda no meio não justificava a mudança. Qual seria, então, o paliativo correto para a doença bem enxergada? Às vezes simplesmente é melhor nortear o próprio lateral para subir menos, tomar mais cuidado; tentar alguém do banco, da posição ou não – e com a devida orientação –, na vaga do titular; pedir para algum volante ficar atento à cobertura, às compensações; e até, dentro de determinado limite, de um bom senso, saber que algum risco ali será corrido.

No clássico contra o Cruzeiro, já pelo Coelho, Adílson ficou preocupado com os ataques celestes pelos flancos. Para isso, na linha de três meias do seu 4-2-3-1, pelas pontas, escalou dois laterais – teriam mais facilidade para recompor, fazer a dobra defensiva. Com esta medida, perdeu a dose mínima de talento, leveza, velocidade, drible, que seria necessária. Bom senso, percepção... Existiam saídas. Matheusinho, Robinho, Ademir, Marquinhos e Aylon – indisponível para este embate, especificamente –, opções para as pontas, foram subutilizados em sua passagem.

Quando passou pelo Galo, Aguirre escalava Patric como meia-ofensivo titular frequentemente. Os argumentos contrários a este vício passavam basicamente pela fama ruim do jogador e por uma visão obtusa de que optar por um lateral no ataque era, em si, "invencionismo", "improvisação" – como algo necessariamente ruim. O equívoco, na verdade, não era refletido por essas proposições. O mais intrigante se encontrava no fato de que ele tinha alternativas para fazer a função com mais habilidade, talento, qualidade. Jogadores da posição – mas não exatamente por isso – que, digamos, ainda que marcassem menos – e nem necessariamente era o caso –, se mostravam melhores escolhas pelo custo-benefício: a dinâmica, as possibilidades que dariam para o time na fase ofensiva, para ficar com a bola, a chance de fazerem o diferente... 

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