Bom de prancheta, bom de relacionamento com o grupo, bom de entrevista. Roger é um dos treinadores mais inteligentes e completos do Brasil. Cheio de predicados. E numa coletiva recente, perguntado sobre a possibilidade de jogar com três volantes, fez colocações táticas bem interessantes, originais, que, claro, passaram ao largo de toda a imprensa. Por ela não foram debatidas.
Esta resposta específica aconteceu antes da entrada efetiva de Adílson entre os titulares. Quando esta se firmou, diga-se de passagem, alguns jornalistas questionaram o fato de que, no passado, Roger teria sinalizado alguma resistência ao uso de três volantes. Haveria, portanto, uma espécie de contradição entre suas novas escalações e o discurso antigo. Nada disso. Onde é preciso desenhar para os comunicadores “especialistas” que, na citada boa solução encontrada pelo treinador alvinegro, com a promoção de Adílson, o 4-2-3-1 foi basicamente mantido, e Elias passou a funcionar como um ótimo meia pela direita?
Voltando à entrevista citada no primeiro parágrafo. Nesta, indagado a respeito da chance de optar por três volantes, Roger ponderou que, caso escolhesse esta alternativa, e os três homens de frente ficassem mais soltos na fase defensiva, buracos pelos flancos no meio-campo, na “segunda linha”, poderiam resistir. De fato: apesar da falsa noção de que a presença de três volantes é obrigatoriamente sinônimo de solidez no combate, principalmente se, no uso deste formato, no mínimo uma das peças mais avançadas não colaborar na recomposição, o time pode ficar, na prática, mais aberto do que num esquema com apenas dois meio-campistas de marcação.
Peguemos os dois desenhos mais populares que incluem um trio de volantes: o 4-4-2 com losango no meio (4-3-1-2) e o 4-3-3. Em ambos, conforme ventilado, se a trinca de marcadores mencionada se fixar no centro, as beiradas correm o risco de ficar desguarnecidas; se um dos volantes se deslocar para um dos flancos, a não ser que o balanço defensivo e as compensações sejam muito bem realizadas – e esses mecanismos, é bom deixar claro, podem viabilizar perfeitamente um sistema com três volantes propriamente ditos sem uma recomposição tão clara de um dos três atores mais adiantados – lacunas em outros setores do meio podem surgir; para completar, se dois dos volantes abrirem – cada um para uma beirada –, o centro provavelmente ficará exposto com apenas um guardião.
No futebol atual, usualmente, qualquer equipe precisa, no instante defensivo, de dois jogadores para bloquear o meio, e de um meia de cada lado fechando os lados dobrando com os laterais – afinal, o adversário provavelmente atacará, em muitos instantes, também com uma dupla pelas extremidades. Portanto, no 4-3-1-2, seria necessário que ou o armador central, aquele que faz o “número 1” do time, ou o segundo atacante que cai pelas beiradas, voltasse mais efetivamente para auxiliar os meio-campistas mais recuados – esta peça que recompõe poderia fechar uma das beiradas e, com o devido balanço defensivo, um dos três volantes bloquearia a outra. No caso do 4-3-3, algo análogo poderia acontecer com o retorno sem a bola de um dos pontas – muitas vezes, sem a posse, este esquema se transforma num 4-5-1, com o recuo de ambos os extremos.
Com todos esses elementos destacados, temos alguns subsídios, parte do material para refletirmos sobre a seguinte possibilidade: com a entrada de Adílson, e a permanência de Carioca e Elias, será que a formação com Cazares e Robinho – ambos com dificuldade de recomposição – juntos – mais um centroavante –, se torna mais viável? E aqui me refiro tanto à alternativa que inclui Elias como um meia pela direita – utilizada atualmente, poderia ser acompanhada de um eficiente balanço defensivo no meio –, quanto àquelas que teriam esta peça como um terceiro volante na acepção da palavra, na prática.