Marcelo Oliveira: simples ou simplório?

21/06/2016 às 08:16.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:59

Quando Marcelo Oliveira foi contratado pelo Atlético, considerei um acerto da diretoria. Por diversos motivos. E sem cravar que daria certo, despido de grande entusiasmo, sem descartar algumas fortes relativizações – ligadas, sobretudo, a certa carência de repertório, de sofisticação do técnico em termos de estratégia e métodos de treinamento.

Naquele momento, o combalido mercado de treinadores no Brasil não oferecia, como de costume, várias grandes opções – apesar de quase dizimado, desértico, o cenário de professores tupiniquins reúne às vezes, circunstancialmente, por uma espécie de acaso, algumas das poucas boas opções existentes num momento de “desemprego simultâneo”. 

Marcelo costuma fazer o simples. Em determinado sentido, se não é o rei da tática, muitas vezes não atrapalha. Usualmente escala bem e, em geral, privilegiando o ataque, o talento. Em um clube que acabara de se despedir de Aguirre, que com seus invencionismos chegara a atrapalhar um elenco muito bom tecnicamente – por exemplo, preterindo Cazares acima de qualquer bom senso –, esse atributo soava como um frescor. 

No fim das contas, para mim, a sensação era: mesmo tendo suas limitações dentro das searas mencionadas, Marcelo – que tem muitas virtudes, é bom que se diga –, num mercado moribundo, tinha chances consideráveis de chegar e, fazendo um “arroz com feijão”, acertar, “encaixar”; simplesmente escalar bem, “não atrapalhar”, escolher um esquema condizente com o grupo – o 4-2-3-1, formato favorito do técnico em questão, combina com os jogadores alvinegros, o que também surgia como bom presságio –, e deixar o bom time do Atlético “fluir melhor” do que nos tempos de Aguirre. 

Ênfase numa palavra: encaixar. Tenho o seguinte sentimento com relação aos trabalhos de Marcelo: por não ser pródigo em sofisticação no que se refere ao labor tático minucioso – tanto no que tange à estratégia de jogo direta, quanto no que se vincula à construção de um conjunto cheio de nuances e com alta sincronia programada no dia a dia –, mas também por fazer o simples frequentemente com eficiência, ser bom na escolha dos jogadores e não atrapalhar na opção por sistemas totalmente inadequados, muitas vezes há boas chances – sobretudo em elencos recheados – de a coisa com ele “encaixar”, engrenar, fluir naturalmente. Caso algum entrave surja – desfalques excessivos, circunstâncias peculiares, ou simplesmente a inexistência desse encaixe imaginado –, e a partir daí, torne-se obrigatório um conserto mais profundo, um trabalho mais minuciosos para arrumar a casa, dar liga, estabelecer o mínimo de compactação, organização e senso coletivo a um time que não obteve essas qualidades somente com escalação e sistema adequados – somados a boas instruções mais básicas e gerais –, o caldo pode entornar.

Ainda é cedo para uma avaliação realmente precisa do trabalho de Marcelo no Atlético. Seu começo atribulado foi veementemente atrapalhado por desfalques. Sim, neste período, mesmo com o conjunto quebrado, ele poderia ter dado superior sentido de organização. Ao mesmo tempo, em geral, me parece estranho desistir, ser taxativo quando se há a soma de duas coisas: pouco tempo de casa e oportunidade quase inexistente de contar com a equipe de verdade. A vitória sobre a Ponte não representa muito. Mas a partir de agora, parece, Marcelo terá um time mais encorpado, mais próximo do ideal; contará com mais e melhores opções para estabelecer os onze que entram em campo. Para mim, vale oferece a ele um período mínimo com sua equipe “de verdade”. Para, aí sim, realizar-se um julgamento mais apropriado.

Simples, mas eficiente, ou simplório? A linha muitas vezes é tênue. Marcelo parece ter um pouco dos dois – conforme mostrei nesta coluna. Volto ao assunto em breve.

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