Piada Olímpica

17/08/2016 às 08:08.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:24

Quando vão analisar a organização de grandes eventos, os jornalistas precisam ter a percepção para, apenas na medida correta, sem exageros, contextualizar os problemas que encontram especificamente dentro das suas áreas. Não é o que vemos com frequência. Muitas vezes enxergamos comunicadores que, por exemplo, ao terem dificuldades com conexão de Internet no centro de mídia, saem proferindo impropérios generalistas, taxativos acerca da capacidade de gestão de determinado país, alguma entidade. Menos, menos... A competição não é apenas para você, meu caro periodista...

Filas, alimentação, estrutura, eficiência e qualidade na transmissão de informações, no esclarecimento de dúvidas: tudo isso para o público, não para uma classe específica; estes são os pontos mais importantes a serem abordados em qualquer avaliação de disputas de grande porte. Portanto, feito o exposto, as questões que listarei a seguir não configuram o choro condescendente de quem se dá importância demais e não consegue manter a imparcialidade no instante em que sofre alguma espécie de contratempo; tampouco funcionam como argumentos definitivos a respeito da Olimpíada em geral: tratam-se somente de temas minimamente dignos da menção, de sugestões para melhorar, até porque, em diferentes acepções, o trabalho dos veículos se entrelaça com a fruição que a audiência do mundo inteiro terá do evento.

Na cobertura dos Jogos existem basicamente dois tipos de credenciais: as das empresas que pagaram pelos direitos de transmissão, e as que não envolvem qualquer tipo de transação financeira. Estas últimas normalmente são concedidas a jornais impressos, revistas, sites – mas não somente. Com elas, não se pode fazer nada além de colher e divulgar certos tipos de informação; se está apto para fazer a cobertura – apurar, entrevistar (dentro de alguns limites) –, mas é proibido passar os confrontos em si.

Pois bem... Está além de qualquer compreensão, lógica, justiça e sentido, a maneira como os espaços para assistir aos duelos nas arenas, e as posições para entrevistar os personagens nas zonas mistas é organizada pelos encarregados de pensar a logística nessas searas. Incrível, surreal é notar, o tempo todo, em todos os locais de disputa, uma vantagem constante e muitas vezes gritante justamente para os profissionais de veículos que não pagaram pelos direitos de transmissão – salvo uma ou outra empresa especifica, dentro do já seleto grupo de compradores que, num erro diametralmente oposto, recebe privilégios acima do bom senso e do que seria previsto no que foi pago por cada um. Isso mesmo. E vejam bem: nem defendo o contrário, ou seja: que os “pagadores” devam ter posição altamente privilegiada; que o direito de informar seja cerceado. O ideal – e não me parece difícil, principalmente considerando o tamanho de uma Olimpíada, o dinheiro envolvido – é que todos tenham ótimos espaços, condições condizentes com o bom exercício da profissão: afinal, a mídia não apenas é a porta-voz para a população, como se entrelaça em cada detalhe com o tamanho, a importância da competição, com o fato de ela e o esporte em geral ter se transformado numa indústria que enriquece justamente muitos desses organizadores e responsáveis pelas logísticas. E o que tenho visto é o grotesco se materializar quando os representantes de veículos que se esforçaram, fizeram complicadas operações comercialmente para vender anúncios, se programaram para poder pagar algo tão caro – direitos de transmissão – serem preteridos, perderem largamente para quem nada investiu. A ponto de eu, várias vezes, proferir algo no seguinte sentido com algumas pessoas aqui: “estou quase ‘pedindo de volta o dinheiro pago’ pelos meus direitos, ‘piorando’ minha credencial para ter mais tranquilidade para trabalhar”.

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