Pressão popular, Neves, Sóbis e considerações táticas

07/06/2017 às 17:16.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:58

Num exemplo claro da mistura de precipitação com desconhecimento que acomete imprensa e público nas “análises” esportivas, a formação do ataque cruzeirense passou a ser equivocadamente condenada mais ou menos na altura da perda do título estadual. Na linha do que esmiucei na coluna da semana passada: era necessário dar uma “explicação” para a derrota; achar “argumentos” para “fundamentar” a “mudança” que seria obrigatória... Naquele momento da temporada, comum se tornou a proposição de que “não dava mais para atuar com Sóbis lá na frente”. “Essa história de ‘falso 9’ já não vale!”; “o ataque está muito leve, não faz mal a ninguém”; “é preciso um goleador nato, alguém de mais força!”, diziam os “especialistas”.

 O que não se notava nesta época era que a Raposa caiu de rendimento em 2017 justamente quando Rafael Sóbis deixou de se comportar claramente como a peça mais adiantada da equipe. Num período em que Thiago Neves convivia com problemas físicos, e consequentemente com a dificuldade para recompor, Mano arquitetou uma engenharia para mantê-lo entre os titulares, nos moldes também já detalhadamente apreciados neste espaço – Sóbis foi recuado para fazer a beirada do campo, e Arrascaeta adiantado para trabalhar como “falso 9” na maior parte do tempo; Thiago Neves executou este papel em boa parte do duelo diante do Galo no Horto, pela final do Mineiro.

 Hoje uma das discussões mais quentes com relação ao Cruzeiro envolve a opção de Mano por Rafael Marques, em detrimento de Ábila. O questionamento faz sentido, e, entre os dois, atualmente, optaria pelo argentino. No que se refere ao todo do elenco cinco estrelas, contudo, a melhor opção segue sendo Sóbis como centroavante, Robinho na direita, e Arrascaeta pelo centro; Thiago Neves, Alisson e mais alguns outros brigando por espaço na ponta canhota: com esta estrutura, o Cruzeiro não foi mal na temporada de modo minimamente recorrente, preocupante.   

 Nesta história toda, enxergamos como mídia e torcida podem criar fenômenos sociológicos, pressões gerais calcadas em diagnósticos infelizes que encontram problemas onde não existe e, posteriormente, supostas soluções que, aí sim, prejudicam. Óbvio que o profissional, o técnico não há de ceder aos lobbies desqualificados intelectualmente. Muitas vezes, porém, há algo intangível nessas coisas, uma força tão sorrateira quanto decisiva do furor midiático/populacional que mesmo os donos de boa dose de personalidade acabam envolvidos. Não se trata de isentar quando isso acontece. Talvez, de relativizar, contextualizar, dar um desconto... Assim que Sóbis estiver disponível, começaremos a ponderar se Mano cairá ou não nas armadilhas aqui traçadas.      

 No cotejo do último domingo contra a Chapecoense, Thiago Neves foi vaiado. Não penso que a escolha por esse tipo de manifestação seja o caminho adequado, mas que o meia se encontrava em jornada pra lá de infeliz, é inquestionável. Curiosidade: com a contusão de Arrascaeta – deve ficar fora por cerca de dois meses –, Thiago Neves provavelmente terá, pela primeira vez, sequência significativa no seu posicionamento favorito: centralizado, como uma espécie de armador, flutuando por trás do centroavante, sem obrigação de recompor, fechar um dos flancos no momento defensivo. Em dois jogos com essa liberdade – ambos frente a Chape –, não foi bem. Daria novas chances a ele. Não desistiria por conta de curta amostragem de quem tem tanto potencial – se assim o fizesse, recairia na precipitação, no simplório que condenei no texto da semana passada. Entretanto, se após trecho considerável da temporada jogando da maneira que mais lhe apetece, este jogador não corresponder, até pelo fato de o Cruzeiro ter ótimo elenco, outras boas opções para executar o mencionado labor, possivelmente será o caso de colocar Thiago Neves no banco.

  

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