Sampaoli no Galo: o que esperar?

10/03/2020 às 18:49.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:54

Sampaoli foi mais um grande acerto do presidente Sérgio Sette Camara. Se a qualidade do argentino enquanto treinador não deixa dúvidas, a engenharia do negócio montada pelo mandatário do Galo – com a ajuda essencial de Rubens e Rafael Menin – afasta qualquer suspeita quanto à possibilidade de descontrole financeiro.

Um detalhe menor acerca da chegada do novo técnico alvinegro, porém, tem mexido com minha imaginação: o ex-santista é repleto de excentricidades, e boa parte de suas idiossincrasias – embora, na prática, não tenham nada de ruim – se choca com o que prega certa fatia um tanto retrógrada e simplória da imprensa mineira.

Para começo de conversa: Sampaoli fala pouco com a mídia e fecha todos os treinamentos. Fico chocado como esse tipo de expediente gera celeumas homéricas num número considerável de comunicadores do nosso estado. Não só não vejo problemas nesses costumes de Sampaoli como, para ser sincero, se estivesse no lugar dele, também não abriria os treinos. Até penso que este profissional poderia ser um pouco mais flexível com a questão das entrevistas, mas não considero sua postura neste aspecto digna de qualquer crítica. Temos de respeitar e ponto. Não é nada demais.

Em termos táticos, Sampaoli habitualmente recorre a soluções que, aqui, por muitos, serão vistas como “invencionismo”. Nosso hermano sempre apresentou predileção por dois sistemas táticos: o 3-4-3 e o 4-3-3. Quando escolhe o primeiro, invariavelmente escala um lateral no trio defensivo. Algo diferente? Somente para os padrões de alguns que palpitam mesmo sem estudar minimamente o jogo. Entre os milhões de exemplos de sucesso desta estratégia poderíamos citar o Chelsea campeão inglês com Conte no banco e Azpilicueta – até então um lateral-direito conhecido por ser fraco na marcação – na zaga. No Brasil, todavia, se um “professor” optar por essa ideia e os resultados não chegarem imediatamente... A alcunha de “Pardal” vem a galope. A torcida precisa ter paciência, e não se inflamar por discursos de parte da mídia – tão popularescos quanto rasos, ignorantes (na acepção da palavra).

No Santos, muitas vezes Sampaoli mudava o esquema de acordo com o mando de campo. Fora utilizava o 3-4-3 – Jorge chegou a ser o “Azpilicueta” da vez – e em casa preferia o 4-3-3. De novo: há, neste pensamento, a priori, algum equívoco? Claro que não. Mas por nossas bandas, o “mudar demais” os onze iniciais vira e mexe é alvo de implicâncias injustas. Aliás, nesta seara, vale mencionar que o carequinha portenho adora alterar a escalação em função do adversário e das condições físicas dos seus atletas. Não me surpreenderia em nada vê-lo censurado indevidamente em circunstancias deste tipo...

Portanto, feito todo o exposto, nos resta o alerta: o Atlético contratou um dos técnicos mais competentes que poderia buscar. O momento, mais do que nunca, é de findar essa ciranda eterna à qual parecia estar fadada a posição de treinador do Galo. E para isso, muito provavelmente, sobretudo se os resultados não surgirem com rapidez, será necessário desligar os ouvidos para quem não compreende quem pensa fora da limitada caixa que predomina no nosso futebol.

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